quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Espantos

Ontem, o primeiro-ministro e a ministra da Educação visitaram três escolas secundárias de Lisboa, para assinalar, com pompa, o início (já atrasado) da primeira fase do Programa de Modernização das Escolas com Ensino Secundário. Segundo rezam as notícias, o chefe de governo ter-se-á mostrado «espantado com o estado deprimente a que o parque escolar chegou».
Há «espantos» que indignam. Há «espantos» que repugnam.
Recordemos alguns factos:

1. Nos últimos treze anos, o Partido Socialista foi (e é) governo durante dez. E não sabia, não sabe, não tem informações sobre o estado do parque escolar?!

2. Pelo menos, nos últimos quinze anos, os professores têm-se cansado de informar e de reclamar do estado inaceitável e vergonhoso a que chegou grande parte das escolas secundárias do país. E o governo diz que não sabe? Que está «espantado»?

3. Foram os governos do Partido Socialista que esbanjaram milhões de euros em subsídios para construção de dez estádios de futebol para o Euro 2004, enquanto deixavam apodrecer escolas com salas de aula onde se treme de frio, onde chove, onde se transpira de calor, onde o giz não agarra ao quadro porque a humidade não o permite, onde cada carteira tem um tamanho diferente e onde há bancos onde deveria haver cadeiras e, onde há cadeiras, não se sabe se é a dimensão das cadeiras que conflitua com a altura da mesa ou se é a altura da mesa que conflitua com a a dimensão das cadeiras.
Lembre-se, a propósito, que vivíamos no tempo da paixão socialista pela Educação. E o responsável político pela candidatura portuguesa ao Euro 2004 era o governante que hoje se afirma «espantado» com o estado «deprimente» a que chegou o parque escolar, o mesmo eng. José Sócrates.

4. Tem sido nessas condições, nesse estado deprimente, que milhares de alunos e de professores aprendem e ensinam, há já muitos anos. Mas, agora, nos últimos três anos, às péssimas condições de trabalho juntou-se a política de confronto, de afronta e de desmedida arrogância levada a cabo pela ministra da Educação, com o permanente aval do primeiro-ministro.

É por isso que há «espantos» que indignam, é por isso que há «espantos» que repugnam.