«É com a queda do império soviético que a cultura-mundo, sob o signo de um liberalismo planetário sem fronteiras, começa a voar. Ora, não foi "naturalmente" nem de maneira fortuita que triunfou. Construi-se como um projecto normativo, uma ideologia planetária, uma revolução encarregue de levar ao mundo o crescimento, a paz, o bem-estar através das virtudes do mercado e da concorrência libertas dos constrangimentos regulamentares. Em ruptura com as políticas keynesianas, os Estados e as grandes instituições económicas internacionais esforçaram-se por fazer triunfar as políticas de privatização, de liberalização de mercados, de desmantelamento das medidas proteccionistas em todo o mundo, incluindo também os países em vias de desenvolvimento. Por esta razão, o capitalismo globalizado não é somente um fenómeno económico sustentado numa abordagem "racional" é também um fenómeno cultural surgido de um projecto ideológico, de uma visão do mundo, de um mito — a auto-regulação do mercado, maximização dos lucros de todos os agentes económicos — de uma crença cujas ideias-força foram aplicadas por todo o lado indistintamente [...]»
Gilles Lipovetsky
Gilles Lipovetsky, Hervé Juvin, O Ocidente Mundializado, p. 29, Edições 70.