Ontem Passos Coelho disse:
«Alargar ao privado os cortes feitos à função Pública [de modo a permitir que uns não ficassem tão penalizados e que todos contribuíssem de modo mais equitativo] seria o mesmo que dizer que Portugal não está a fazer ajustamentos, está, apenas, de forma interina, a aumentar a carga fiscal para, do lado da receita corrigir os desequilíbrios que tem. Isto não seria visto de forma credível e o nosso programa de ajuda financeira morreria em Novembro.»
Sublinhei a passagem «de forma interina», porque ela explica tudo acerca das intenções políticas deste Governo e porque ela esclarece tudo quanto à (falta de) honestidade política de Passos Coelho.
O chefe do Governo ao dizer de modo explícito (ainda que por evidente descuido, pois é a negação do que publicamente tem afirmado) que taxar os subsídios de férias e de Natal de todos os trabalhadores (do sector público e do sector privado) não seria visto como algo de credível — porque sendo uma medida interina não era considerada um ajustamento estrutural — está a dizer, sem tergiversações, que a supressão do subsídio de férias e de Natal aos funcionários públicos não vai ser uma medida interina, isto é, não vai ser uma medida provisória, não vai vigorar apenas em 2012 e em 2013, vai ser uma medida definitiva.
Com isto, Passos Coelho reconfirma duas coisas:
1. A sua objectiva impreparação para o cargo a que se candidatou e que agora exerce. Desde que é líder do PSD e até há poucas dias, Passos Coelho não só negou, reiterada e peremptoriamente, que seria este o caminho que seguiria, como afirmou que era «uma estupidez» fazer o que agora está a fazer.
Passos Coelho comporta-se como uma barata tonta. Não sabe o que quer, não sabe o que fazer e como fazer. Da TSU aos impostos, dos vencimentos aos subsídios, do IRS ao IVA, Passos Coelho já afirmou tudo e o seu contrário. Tecnicamente, Passos Coelho é um perigo para quem esteja sob a sua orientação, o que significa, neste caso, que é um perigo para o país;
2. A sua falta de honestidade política. Infelizmente, Passos Coelho já deu provas sobejas de que não é politicamente um homem sério. Em todos os domínios da governação, não tem tido outro comportamento que não seja o de constantemente fazer fintas aos compromissos que publicamente assume, o de obrigar-se e desobrigar-se, com uma naturalidade que impressiona. Neste caso concreto dos cortes dos subsídios de férias e de Natal, Coelho consegue ser ainda mais desonesto: sabe que o seu objectivo é tornar os cortes definitivos, mas anuncia-os como provisórios.
Desgraçadamente para todos nós, e em apenas quatro meses, Passos Coelho já igualou ou até já ultrapassou Sócrates, na desonestidade política.
Portugal não aguenta tanta trapaça.