No momento em que, nas escolas, se está a iniciar a última fase do processo de pseudo-avaliação do desempenho docente, relativamente ao biénio 2009-2011, e em que a sua indecência virá rapidamente ao de cima com todo o esplendor, deixo mais uma observação sobre o novo/velho modelo de avaliação do desempenho de Nuno Crato («avaliação do desempenho de Nuno Crato», no duplo sentido que esta expressão comporta: porque é da sua autoria/responsabilidade e porque a sua apresentação constituiu também a primeira prova de avaliação do seu desempenho no cargo — prova em que reprovou, sem apelo nem agravo).
Artigo 21.º (Avaliação Final) — Neste artigo é atribuído o peso de 60% à dimensão «científica e pedagógica», 20% à dimensão «participação na escola e relação com a comunidade» e 20% à dimensão «formação contínua e desenvolvimento profissional».
Defendo, como já aqui o escrevi diversas vezes, que a avaliação do desempenho deveria estar centrada exclusivamente na primeira dimensão (científica e pedagógica), porque é dela que depende o processo de ensino-aprendizagem e porque é para este processo que toda a actividade desenvolvida pelo professor e pela escola deve convergir.
A segunda dimensão, na parte relativa à «participação na escola», deveria decorrer exclusivamente das funções que cada professor exerce e da dinâmica da política interna de cada estabelecimento de ensino, e, na parte relativa à relação com a comunidade, deveria depender exclusivamente da política de relação com o meio que cada escola define. É a escola que deve mobilizar os recursos humanos necessários, e só esses, ao desenvolvimento da sua política interna e externa. Deste modo, os professores não têm todos de andar desvairados a inventar iniciativas para mostrarem que são muito participativos na vida interna da escola nem têm todos de andar afainados a inventar relações com a comunidade. Mas, estranhamente, Nuno Crato quer que isto aconteça.
A terceira dimensão (formação contínua) deveria ser entendida como um pré-requisito da primeira dimensão e, como tal, o seu cumprimento ser uma exigência. A não realização, por responsabilidade do professor, de formação contínua na sua área científica e didáctica, deveria impedir a progressão na carreira (como, aliás, acertadamente acontecia no modelo anterior ao de Rodrigues). E sobre isto não era necessário inventar mais coisa alguma.
Mas Nuno Crato não pensa nada disto. Nuno Crato acha que aquilo que é fundamental e decisivo para o processo de ensino-aprendizagem deve valer apenas 60%. Todavia, mesmo a importância de 60% formalmente atribuída à parte científica e pedagógica é meramente aparente. Na realidade, como já referi em artigos anteriores, não é possível avaliar coisa alguma, e muito menos o desempenho científico e pedagógico de um professor, através de um relatório anual de três páginas, sem possibilidade de anexos, onde o docente tem de proceder à análise de todo o trabalho desenvolvido, nas três dimensões acima referidas. Três páginas, para três áreas.
Que seriedade, que fiabilidade, que credibilidade tem uma avaliação realizada deste modo? Nuno Crato, como Rodrigues e Alçada, brinca com coisas sérias.
Que seriedade, que fiabilidade, que credibilidade tem uma avaliação realizada deste modo? Nuno Crato, como Rodrigues e Alçada, brinca com coisas sérias.