terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nacos

«De todas essas reproduções miniaturais d'O Naufragar ficou-me a memória perfeita do que amei: os camaradas de jangada e risco, meu lote no respiro. Ficou-me pois o horror de ver a maioria deles ir ao fundo por carência de saber apedrejar de riso o tenebroso. Vi-os cair a pique no abismo como caranguejos enfeixados uns nos outros.
Não sei se houve Barca inicial, acho que não. Acabaremos por construir alguma? Ignoro, e não é desse interrogar que me vem rasto. Sinto: nadar para aguentar o próprio do corpo, e então cresce conjunto de promessas no dar e receber dos mútuos, múltiplos impulsos. Vou mais: da fortaleza em companheirismo se descobrirá talvez nosso destino, que o passado profetiza. Peixe deu animal de seco, anos depois nós-mesmos. Homem é apogeu desértico. Entrevê distantes águas e talvez seja miragem, talvez não. Possível que o oceano venha, e nós a ele. E água e gente uma misturação de respirar completo, mudança do presente noutras luzes por sumidos o passado e o futuro.»
Nuno Bragança, A Noite e o Riso, Pub. Dom Quixote.