sábado, 8 de outubro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

Três judeus, de diferentes comunidades, gabavam-se das qualidades dos seus rabinos.
O primeiro dizia:
— O nosso tem uma fé tão forte, é animado por um tal temor a Deus que não pára de tremer dia e noite. É preciso atá-lo com correias, senão cai da cama.
— O nosso — diz o segundo — é de uma santidade tal que Deus não pára de tremer diante dele, tanto é o medo que tem de lhe desagradar. Aliás, é por isso que o mundo não está tão forte nestes últimos tempos. Deus não pára de tremer.
O terceiro judeu tomou então a palavra e disse:
— Os vossos dois rabinos são formidáveis, não duvido. Mas o nosso, em minha opinião, ultrapassa-os. Durante um longo período, não parou de tremer. Durante um outro longo período, Deus não parou de tremer diante dele. Depois disso ele pôs-se a reflectir seriamente. Por fim, perguntou a Deus: «Ouve, porque razão havemos de tremer?»
Jean- Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema