O passado fim-de-semana foi fim-de-semana de rankings. Há dez anos que, por esta altura, se publicam os chamados rankings das escolas do ensino básico e secundário. Estes rankings elaboram-se tendo por base os resultados alcançados pelos alunos nos exames nacionais. Exclusivamente esses resultados.
Dos jornais que costumo ler, Sol, Público e Expresso, só o primeiro não publicou o seu ranking (até agora, pelo menos). O Público foi, aliás, o grande paladino da defesa da publicação dos rankings. Na altura em que se discutia se o Ministério da Educação devia ou não devia fornecer à comunicação social os resultados dos exames nacionais, era seu director José Manuel Fernandes, que vivia obcecado, e depois deslumbrado, com a divulgação da lista ordenada das escolas, segundo as classificações obtidas pelos alunos nas provas nacionais. (Estávamos, em Portugal, no início de uma fase, que ainda hoje se desenvolve, de se pretender importar e copiar do sector privado o seu ideal de concorrência e de competitividade e os seus paradigmas de gestão. O mundo empresarial era, e ainda é, apontado como o arquétipo. Muita gente vivia, e alguma ainda vive, rendida ao seu modo organizacional e às suas pseudotécnicas de avaliação. Ora, os rankings correspondiam e correspondem na perfeição a esta visão do mundo, uma visão que só tem como inteligível aquilo possa ser reduzido a uma folha de Excel).
Cumpridos dez anos de rankings, foi curioso ler o balanço que os jornais realizaram do trabalho produzido. O curioso está aqui: directores de jornais, jornalistas e entrevistados são unânimes em apontar vários e graves defeitos aos rankings, mas todos os anos publicam-nos. São de tal forma graves que anulam a possibilidade de qualquer pretensa virtude que eles pudessem ter.
Todos sabem que, do ponto de vista da avaliação da qualidade do trabalho desenvolvido por cada escola, os rankings publicados valem zero. Todos sabem. Mas, ano após ano, os jornais publicam-nos. É uma boa maneira de vender papel? É, sem dúvida. Há alguma seriedade nisto? Não descortino nenhuma. Vende-se o papel e vende-se a ilusão de que se está a revelar uma informação objectiva. Mas o que se está a vender é mais um faz-de-conta, que se junta a tantos outros faz-de-conta em que este país vive. Neste caso, é o faz-de-conta de que avaliamos a qualidade das escolas através de um ranking.
Vivemos, na verdade, em plena época de faz-de-conta que avaliamos. Avalia-se sem nenhuma substância, sem nenhum rigor, sem nenhuma fiabilidade, mas há quem viva feliz neste enorme e contínuo simulacro: são os rankings das escolas, é a avaliação dos professores, é avaliação da função pública, foi a avaliação dos conselhos executivos. É uma vergonha atrás de outra vergonha. O rei vai nu, mas o povo gosta de imaginar que ele veste um fato de lantejoulas.
É, todavia, interessante verificar que os emergentes grandes defensores da avaliação são aqueles que, simultaneamente, revelam não possuir a mais pequena ideia de como essa avaliação se realiza. É quase caricato constatar isto, mas é verdade. Três exemplos: José Manuel Fernandes queria avaliar a qualidade das escolas e acabou a fazer listagens de nomes de estabelecimentos de ensino sem nenhuma credibilidade avaliativa; Lurdes Rodrigues, que não tinha a mais pálida ideia de como se poderia avaliar o desempenho dos professores, produziu uma barbaridade legislativa sobre avaliação que ninguém imaginava ser possível; Teixeira dos Santos que pretendia avaliar o desempenho dos membros dos conselhos executivos, num determinado ano escolar, acabou a classificar currículos, que nada tinham que ver com o desempenho no ano escolar avaliado. Resultados de tudo isto? Injustiças em quantidade e qualidade nunca observadas, atropelos, compadrios, «cunhas», prepotências, enfim, de mal passou-se para muito pior. Algum ganho sério? Nenhum. Foi aventureirismo, foi irresponsabilidade, foi incompetência de quem promoveu tudo isto? Foi, sem a menor dúvida. Quem promoveu tudo isto deveria ter, mas desgraçadamente não tem, esta noção: ninguém deve fazer coisas que não sabe, coisas para as quais não tem preparação nem formação.
Também não deixa de ser caricato (e ao mesmo tempo penoso) ver como alguns directores das escolas pior e melhor classificadas se desdobram em grotescas explicações para justificar o «embaraço» ou a «glória» das suas classificações. Trambolhões, de um ano para o outro, de duzentos ou trezentos lugares no ranking justificam-se como? Subidas vertiginosas, de um ano para o outro, de duzentos ou trezentos lugares justificam-se como? Como se explicam estas bruscas e radicais alterações no ranking? Nos primeiros casos, por repentina e enigmática impreparação do corpo docente? Ou por uma má «fornada» (sic) de alunos, naquele ano? No segundo caso, por repentina e enigmática excelência do corpo docente? Ou por uma maravilhosa «fornada» de alunos, naquele ano?
Seria higiénico para o país que o Ministério da Educação, os jornais e alguns directores de escolas ganhassem siso e evitassem esta deprimente encenação que anualmente se repete.
Dos jornais que costumo ler, Sol, Público e Expresso, só o primeiro não publicou o seu ranking (até agora, pelo menos). O Público foi, aliás, o grande paladino da defesa da publicação dos rankings. Na altura em que se discutia se o Ministério da Educação devia ou não devia fornecer à comunicação social os resultados dos exames nacionais, era seu director José Manuel Fernandes, que vivia obcecado, e depois deslumbrado, com a divulgação da lista ordenada das escolas, segundo as classificações obtidas pelos alunos nas provas nacionais. (Estávamos, em Portugal, no início de uma fase, que ainda hoje se desenvolve, de se pretender importar e copiar do sector privado o seu ideal de concorrência e de competitividade e os seus paradigmas de gestão. O mundo empresarial era, e ainda é, apontado como o arquétipo. Muita gente vivia, e alguma ainda vive, rendida ao seu modo organizacional e às suas pseudotécnicas de avaliação. Ora, os rankings correspondiam e correspondem na perfeição a esta visão do mundo, uma visão que só tem como inteligível aquilo possa ser reduzido a uma folha de Excel).
Cumpridos dez anos de rankings, foi curioso ler o balanço que os jornais realizaram do trabalho produzido. O curioso está aqui: directores de jornais, jornalistas e entrevistados são unânimes em apontar vários e graves defeitos aos rankings, mas todos os anos publicam-nos. São de tal forma graves que anulam a possibilidade de qualquer pretensa virtude que eles pudessem ter.
Todos sabem que, do ponto de vista da avaliação da qualidade do trabalho desenvolvido por cada escola, os rankings publicados valem zero. Todos sabem. Mas, ano após ano, os jornais publicam-nos. É uma boa maneira de vender papel? É, sem dúvida. Há alguma seriedade nisto? Não descortino nenhuma. Vende-se o papel e vende-se a ilusão de que se está a revelar uma informação objectiva. Mas o que se está a vender é mais um faz-de-conta, que se junta a tantos outros faz-de-conta em que este país vive. Neste caso, é o faz-de-conta de que avaliamos a qualidade das escolas através de um ranking.
Vivemos, na verdade, em plena época de faz-de-conta que avaliamos. Avalia-se sem nenhuma substância, sem nenhum rigor, sem nenhuma fiabilidade, mas há quem viva feliz neste enorme e contínuo simulacro: são os rankings das escolas, é a avaliação dos professores, é avaliação da função pública, foi a avaliação dos conselhos executivos. É uma vergonha atrás de outra vergonha. O rei vai nu, mas o povo gosta de imaginar que ele veste um fato de lantejoulas.
É, todavia, interessante verificar que os emergentes grandes defensores da avaliação são aqueles que, simultaneamente, revelam não possuir a mais pequena ideia de como essa avaliação se realiza. É quase caricato constatar isto, mas é verdade. Três exemplos: José Manuel Fernandes queria avaliar a qualidade das escolas e acabou a fazer listagens de nomes de estabelecimentos de ensino sem nenhuma credibilidade avaliativa; Lurdes Rodrigues, que não tinha a mais pálida ideia de como se poderia avaliar o desempenho dos professores, produziu uma barbaridade legislativa sobre avaliação que ninguém imaginava ser possível; Teixeira dos Santos que pretendia avaliar o desempenho dos membros dos conselhos executivos, num determinado ano escolar, acabou a classificar currículos, que nada tinham que ver com o desempenho no ano escolar avaliado. Resultados de tudo isto? Injustiças em quantidade e qualidade nunca observadas, atropelos, compadrios, «cunhas», prepotências, enfim, de mal passou-se para muito pior. Algum ganho sério? Nenhum. Foi aventureirismo, foi irresponsabilidade, foi incompetência de quem promoveu tudo isto? Foi, sem a menor dúvida. Quem promoveu tudo isto deveria ter, mas desgraçadamente não tem, esta noção: ninguém deve fazer coisas que não sabe, coisas para as quais não tem preparação nem formação.
Também não deixa de ser caricato (e ao mesmo tempo penoso) ver como alguns directores das escolas pior e melhor classificadas se desdobram em grotescas explicações para justificar o «embaraço» ou a «glória» das suas classificações. Trambolhões, de um ano para o outro, de duzentos ou trezentos lugares no ranking justificam-se como? Subidas vertiginosas, de um ano para o outro, de duzentos ou trezentos lugares justificam-se como? Como se explicam estas bruscas e radicais alterações no ranking? Nos primeiros casos, por repentina e enigmática impreparação do corpo docente? Ou por uma má «fornada» (sic) de alunos, naquele ano? No segundo caso, por repentina e enigmática excelência do corpo docente? Ou por uma maravilhosa «fornada» de alunos, naquele ano?
Seria higiénico para o país que o Ministério da Educação, os jornais e alguns directores de escolas ganhassem siso e evitassem esta deprimente encenação que anualmente se repete.