segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Registos do fim-de-semana

Partidos já preparam eleições em Maio

Sócrates ignora divisões no Governo e no PS


Tribunal de Contas arrasa contrato do troço que resta do TGV
Sol (8/10/10)

Corte de salários aos funcionários públicos varia entre os 50 e 725 euros

Greve geral por sacrifícios iguais para todos


Falta colocar 403 professores nas escolas
Público (8/10/10)

Cortes de salários na Função Pública são definitivos

«Sócrates é um dos melhores líderes na Europa» (Tony Blair)
Expresso (9/10/10)

Governo recua e volta a admitir acumulação de salários e pensões na função pública
— Gestores, médicos, autarcas e Presidentes entre os beneficiados —

FMI avisa que Portugal será a pior economia da União Europeia em 2015
— É o país que vai crescer menos, que terá o pior défice orçamental e externo da zona euro e uma das taxas de desemprego mais elevadas. Até a Grécia estará melhor —

Queixa-crime contra PGR no Supremo
Público (9/10/10)

Blair afirmou que Sócrates é um dos melhores líderes da União Europeia. Blair também disse que o seu exemplo de integridade é Georges W. Bush. A segunda afirmação tem a virtude de tornar inteligível a primeira.

Na entrevista que Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, deu esta semana ao Expresso, há passagens curiosas. Por exemplo: «A questão que se coloca agora não é a de saber se as medidas deviam ter sido tomadas há mais tempo ou não, mas perceber qual vai ser a nossa atitude perante estas medida.» É surpreendente que Teixeira dos Santos — que sempre que lhe dá jeito fala em avaliação e que é preciso avaliar o trabalho realizado por cada um e que essa avaliação deve permitir premiar o mérito e que ele é que é o campeão da avaliação — fuja tão simpaticamente à avaliação do seu próprio trabalho.
É, sem dúvida, interessante ouvi-lo dizer que não importa «saber se as medidas deviam ter sido tomadas há mais tempo ou não». Naturalmente que é um pormenor irrelevante saber se as medidas foram tomadas no devido tempo ou não. Naturalmente que é uma minudência desprezível saber se, no devido tempo, foram ou não foram realizadas acções preventivas relativamente à crise anunciada. Naturalmente que é um detalhe insignificante saber por que razão, no devido tempo, o eng. Sócrates e o dr. Santos zombaram dos sucessivos avisos que os «pessimistas» lhe dirigiram. Naturalmente que é uma particularidade sem sentido avaliar por que motivo o eng. Sócrates e o dr. Santos, em 2009, em plena crise, esbanjaram dinheiro com tudo e com todos. Naturalmente que nada disto interessa ao dr. Santos.
Mas, pelo menos, reconheça, sr. ministro, que, a nós, — isto é, a quem vai pagar a crise — talvez o assunto possa despertar algum interesse...


Outra passagem sui generis da entrevista, e que me leva a pensar que o ministro das Finanças é um adepto da pantomina, é esta: «O Governo fez o que lhe competia e surpreendeu os partidos da oposição, principalmente o PSD, que não contava com um corte na despesa desta dimensão e que parece que ficou sem fala.» O nosso ministro peca por modéstia: o Governo não surpreendeu só os partidos da Oposição, o Governo surpreendeu Portugal inteiro, se não mesmo o Mundo. Como, de igual modo, ficámos particularmente surpreendidos ao saber, pelo FMI, que seremos a pior economia entre os 27 países da União Europeia, em 2015. A pior, sr. ministro! A pior de toda a União Europeia! Então não haveríamos de ficar surpreendidos? Sem dúvida que ficámos surpreendidos. Surpreendidos e sem fala.

E continuámos surpreendidos ao lermos, na mesma entrevista, que «a redução dos salários terá um carácter permanente.» Reconheço que o ministro das Finanças tem uma capacidade inesgotável de nos surpreender: o eng. Sócrates afirmou, há menos de uma semana, que a redução salarial era para vigorar em 2011, mas, logo a seguir, vem Teixeira dos Santos pôr na linha o primeiro-ministro, e mostrar que ele, primeiro-ministro, não sabe o que diz. Faz Teixeira dos Santos bem. Que a voz nunca lhe doa e a vontade de nos surpreender nunca termine.


Finalmente, a derradeira surpresa que o Governo e o dr. Santos nos reservavam: a acumulação de salários e de pensões na Função Pública vai continuar! Por outras palavras: o regalório vai prosseguir e a moralidade é só para os outros.
A coragem, a coerência, o sentido de justiça e de equidade do Governo e do dr. Santos deixam qualquer um sem fala.