«Platão "provou" a imortalidade da alma em vários dos seus diálogos, mas a sua argumentação mais conhecida estará talvez no diálogo Ménon, em que Sócrates demonstra que a alma deve ter existido antes de a pessoa nascer.
Curiosamente, a maior parte das pessoas não está interessada na possibilidade da vida eterna antes de chegarem à Terra, possivelmente porque, mesmo que tenham existido nessa altura, não se recordam. [...]
De qualquer maneira, a prova de Sócrates para a imortalidade pré-natal é que um dos jovens escravos iletrados de Ménon surge com o teorema de Pitágoras sem jamais ter estudado geometria! Consequentemente, devia estar a recordá-lo. Devem lembrar-se desse teorema: num triângulo rectângulo o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Hã? Mal conseguimos lembrar-nos do que aprendemos no décimo ano, quanto mais antes de nascermos.
Sócrates parece limitar-se a guiar o rapaz para a "descoberta" do teorema que está guardado algures no fundo da sua psique.
Eis Sócrates em acção, a desenhar com um pau no chão:
Sócrates: Diz-me rapaz: Sabes que uma figura como esta é um quadrado?
Rapaz: Sei.
Sócrates: E sabes que um quadrado tem estes quatro lados iguais?
Rapaz: Certamente.
Sócrates: E estas linhas que desenhei no meio do quadrado também são iguais?
Rapaz: Sim.
E Sócrates continua, obtendo respostas de uma única palavra do rapaz, até ao desfecho:
Sócrates (para Ménon): Reparaste, Ménon, que não estive a ensinar nada ao rapaz, apenas a fazer-lhe perguntas, e que agora ele imagina que sabe qual é o tamanho que uma linha tem de ter para produzir uma figura de meio metro quadrado, não é verdade?
Para Sócrates, isto é prova de que o rapaz está a recordar conhecimento que já tinha, por isso, ipso facto, existe uma psique imortal — na verdade, uma psique imortal que teve 20 valores a Geometria.
Para um educador moderno, o problema que a prova de Ménon coloca é que parece que Sócrates está a ensinar o teorema ao rapaz — usando o método socrático de instruir através de uma série de perguntas e respostas.
O Ménon Moderno:
Um casal inscreve-se num curso de Chinês.
— Estão a pensar ir à China? — pergunta o professor.
— Oh, não — responde o homem. — Acabámos de adoptar um bebé chinês e quando ele começar a falar queremos perceber o que diz.
No mínimo, o argumento de Sócrates levanta aqui questões sobre o que é e como funciona a memória: na realidade, funciona misteriosamente.
Três velhotes vão ao médico para fazer um exame à memória. O médico pergunta ao primeiro:
— Quanto é três vezes três?
— São 285! — responde o homem.
Preocupado, o médico volta-se para o segundo homem.
— E o senhor? Quanto é três vezes três?
— Hm... Segunda-feira! - grita o segundo homem.
Mais preocupado ainda, o médico dirige-se ao terceiro homem.
— Bem, que diz o senhor? Quanto é três vezes três?
— Nove! — responde o terceiro homem.
— Excelente! — exclama o médico . — Como é que chegou a esse resultado?
— Oh, é fácil — responde o homem. — Basta subtrair os 285 a segunda-feira!»
Curiosamente, a maior parte das pessoas não está interessada na possibilidade da vida eterna antes de chegarem à Terra, possivelmente porque, mesmo que tenham existido nessa altura, não se recordam. [...]
De qualquer maneira, a prova de Sócrates para a imortalidade pré-natal é que um dos jovens escravos iletrados de Ménon surge com o teorema de Pitágoras sem jamais ter estudado geometria! Consequentemente, devia estar a recordá-lo. Devem lembrar-se desse teorema: num triângulo rectângulo o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Hã? Mal conseguimos lembrar-nos do que aprendemos no décimo ano, quanto mais antes de nascermos.
Sócrates parece limitar-se a guiar o rapaz para a "descoberta" do teorema que está guardado algures no fundo da sua psique.
Eis Sócrates em acção, a desenhar com um pau no chão:
Sócrates: Diz-me rapaz: Sabes que uma figura como esta é um quadrado?
Rapaz: Sei.
Sócrates: E sabes que um quadrado tem estes quatro lados iguais?
Rapaz: Certamente.
Sócrates: E estas linhas que desenhei no meio do quadrado também são iguais?
Rapaz: Sim.
E Sócrates continua, obtendo respostas de uma única palavra do rapaz, até ao desfecho:
Sócrates (para Ménon): Reparaste, Ménon, que não estive a ensinar nada ao rapaz, apenas a fazer-lhe perguntas, e que agora ele imagina que sabe qual é o tamanho que uma linha tem de ter para produzir uma figura de meio metro quadrado, não é verdade?
Para Sócrates, isto é prova de que o rapaz está a recordar conhecimento que já tinha, por isso, ipso facto, existe uma psique imortal — na verdade, uma psique imortal que teve 20 valores a Geometria.
Para um educador moderno, o problema que a prova de Ménon coloca é que parece que Sócrates está a ensinar o teorema ao rapaz — usando o método socrático de instruir através de uma série de perguntas e respostas.
O Ménon Moderno:
Um casal inscreve-se num curso de Chinês.
— Estão a pensar ir à China? — pergunta o professor.
— Oh, não — responde o homem. — Acabámos de adoptar um bebé chinês e quando ele começar a falar queremos perceber o que diz.
No mínimo, o argumento de Sócrates levanta aqui questões sobre o que é e como funciona a memória: na realidade, funciona misteriosamente.
Três velhotes vão ao médico para fazer um exame à memória. O médico pergunta ao primeiro:
— Quanto é três vezes três?
— São 285! — responde o homem.
Preocupado, o médico volta-se para o segundo homem.
— E o senhor? Quanto é três vezes três?
— Hm... Segunda-feira! - grita o segundo homem.
Mais preocupado ainda, o médico dirige-se ao terceiro homem.
— Bem, que diz o senhor? Quanto é três vezes três?
— Nove! — responde o terceiro homem.
— Excelente! — exclama o médico . — Como é que chegou a esse resultado?
— Oh, é fácil — responde o homem. — Basta subtrair os 285 a segunda-feira!»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.126-130.