É um dito mais ou menos consensual considerar que, em democracia, cada povo tem os políticos que merece. Nós, que somos um povo manso mas dado a permanentes desequilíbrios psicológicos, conseguimos sempre arranjar modo de colocar um «talvez» nestas verdades mais ou menos universalizadas. Na realidade, não é fácil aceitar que, mesmo sendo o povo que somos, estejamos a ser justamente castigados. Não seremos, certamente, assim tão maus, de modo a que tenhamos de cumprir pena tão pesada.
É certo que em algumas coisas não estamos sozinhos. Temos os gregos, os espanhóis e os irlandeses como parceiros de desgraça, mas já duvido que esses povos tenham de suportar aquilo que nós suportamos.
Para além de comummente suportarmos a incompetência dos políticos que conduzem os respectivos países ao desastre, nós, portugueses, ainda temos de suportar os Almeida Santos, os Ricardo Gonçalves e outros que pululam pela cena política e que, aposto, os gregos, os espanhóis e os irlandeses não têm.
O dr. António de Almeida Santos, que considera ainda não ter chegado a hora da sua reforma, tem-se ocupado ultimamente, de modo tão dedicado quanto desagradável, ao exercício público da sobranceria e do desdém, que manifestamente nutre por nós. Não vou recordar os esdrúxulos elogios que, há tempos, ele dirigiu ao dr. Jardim, o governador da Madeira — isso são contas de outro rosário, ainda que indicadores de anomalia na lucidez —, recordo apenas o seguinte:
— o dr. Santos considerou inaceitável haver reuniões plenárias na Assembleia da República, à sexta-feira. Para ele, a sexta-feira já é fim-de-semana e ao fim-de-semana não se trabalha;
— o dr. Santos considera inaceitável que o novo aeroporto de Lisboa seja em Alcochete. Para ele, há o perigo de os terroristas dinamitarem as pontes sobre o Tejo e, desse modo, o aeroporto ficar isolado de Lisboa;
— o dr. Santos considera ainda que se o Governo sofre com a crise o povo também deve sofrer.
O dr. Santos não se satisfaz com os insultos que nos dirige à inteligência, ele quer vingar-se de nós. Não nos suporta e quer nos ver a sangrar. Agora, que já não irá mais a votos, diz tudo o que sente, já não precisa de esconder nada, e mostra como deve ter sofrido todos estes anos em que teve de mendigar votos ao povo, em que teve de trabalhar à sexta-feira, em que teve, com risco de vida, de passar as pontes sobre o Tejo.
E nós, para além do défice, do primeiro-ministro que temos, dos cortes no vencimento e em tudo o resto, ainda temos de suportar o dr. Santos.
O dr. Ricardo Gonçalves é uma figura diferente. É uma figura que, felizmente, pouca gente conhece. Mas é notório que se quer tornar conhecido, e quando não é possível ser-se conhecido por boas razões, servem as más.
O dr. Gonçalves é deputado da Nação. Tem o vencimento de deputado da Nação, que é de 3.815,17 euros. Como deputado da Nação, recebe ainda despesas de representação, no valor de 370,32 euros; ajudas de custo, no montante de 69,19 euros, por dia (se não faltar, significa 69,19 x 22 dias = 1.522,18 euros); 40 cêntimos por quilómetro, por cada viagem semanal de ida e volta que faça entre a sua residência e a Assembleia da República (ou seja, entre Braga e Lisboa); para além de outras verbas relativas a deslocações em trabalho político, e de ter direito a um seguro de vida, a um seguro de saúde e a médico e enfermeiro diariamente no Parlamento.
O dr. Gonçalves, deputado da Nação, ganha estes milhares de euros mensais e tem as regalias acima enunciadas, mas, há dias, veio dizer para os jornais que está prestes a passar fome.
Não é com o meu voto que o dr. Gonçalves está onde está, nem nunca será, todavia, este dr. Gonçalves, além de insultar os pobres e de envergonhar quem nele votou, também enxovalha o bom nome do lugar onde se senta a representar o povo e enxovalha a própria República, que ontem celebrou os 100 anos do seu nascimento.
Por muito menos, Bill Clinton teve de responder perante o Senado e quase foi destituído. Ao dr. Gonçalves nada acontece?
Só a nós é que nos acontecem as coisas más? Para além do défice, do primeiro-ministro que temos, dos cortes no vencimento e em tudo o resto, ainda temos de suportar o dr. Santos e o dr. Gonçalves?
Reparo que, quer o primeiro-ministro quer o dr. Almeida Santos quer o dr. Ricardo Gonçalves, todos são do PS. Mas trata-se, naturalmente, de uma infeliz coincidência.
É certo que em algumas coisas não estamos sozinhos. Temos os gregos, os espanhóis e os irlandeses como parceiros de desgraça, mas já duvido que esses povos tenham de suportar aquilo que nós suportamos.
Para além de comummente suportarmos a incompetência dos políticos que conduzem os respectivos países ao desastre, nós, portugueses, ainda temos de suportar os Almeida Santos, os Ricardo Gonçalves e outros que pululam pela cena política e que, aposto, os gregos, os espanhóis e os irlandeses não têm.
O dr. António de Almeida Santos, que considera ainda não ter chegado a hora da sua reforma, tem-se ocupado ultimamente, de modo tão dedicado quanto desagradável, ao exercício público da sobranceria e do desdém, que manifestamente nutre por nós. Não vou recordar os esdrúxulos elogios que, há tempos, ele dirigiu ao dr. Jardim, o governador da Madeira — isso são contas de outro rosário, ainda que indicadores de anomalia na lucidez —, recordo apenas o seguinte:
— o dr. Santos considerou inaceitável haver reuniões plenárias na Assembleia da República, à sexta-feira. Para ele, a sexta-feira já é fim-de-semana e ao fim-de-semana não se trabalha;
— o dr. Santos considera inaceitável que o novo aeroporto de Lisboa seja em Alcochete. Para ele, há o perigo de os terroristas dinamitarem as pontes sobre o Tejo e, desse modo, o aeroporto ficar isolado de Lisboa;
— o dr. Santos considera ainda que se o Governo sofre com a crise o povo também deve sofrer.
O dr. Santos não se satisfaz com os insultos que nos dirige à inteligência, ele quer vingar-se de nós. Não nos suporta e quer nos ver a sangrar. Agora, que já não irá mais a votos, diz tudo o que sente, já não precisa de esconder nada, e mostra como deve ter sofrido todos estes anos em que teve de mendigar votos ao povo, em que teve de trabalhar à sexta-feira, em que teve, com risco de vida, de passar as pontes sobre o Tejo.
E nós, para além do défice, do primeiro-ministro que temos, dos cortes no vencimento e em tudo o resto, ainda temos de suportar o dr. Santos.
O dr. Ricardo Gonçalves é uma figura diferente. É uma figura que, felizmente, pouca gente conhece. Mas é notório que se quer tornar conhecido, e quando não é possível ser-se conhecido por boas razões, servem as más.
O dr. Gonçalves é deputado da Nação. Tem o vencimento de deputado da Nação, que é de 3.815,17 euros. Como deputado da Nação, recebe ainda despesas de representação, no valor de 370,32 euros; ajudas de custo, no montante de 69,19 euros, por dia (se não faltar, significa 69,19 x 22 dias = 1.522,18 euros); 40 cêntimos por quilómetro, por cada viagem semanal de ida e volta que faça entre a sua residência e a Assembleia da República (ou seja, entre Braga e Lisboa); para além de outras verbas relativas a deslocações em trabalho político, e de ter direito a um seguro de vida, a um seguro de saúde e a médico e enfermeiro diariamente no Parlamento.
O dr. Gonçalves, deputado da Nação, ganha estes milhares de euros mensais e tem as regalias acima enunciadas, mas, há dias, veio dizer para os jornais que está prestes a passar fome.
Não é com o meu voto que o dr. Gonçalves está onde está, nem nunca será, todavia, este dr. Gonçalves, além de insultar os pobres e de envergonhar quem nele votou, também enxovalha o bom nome do lugar onde se senta a representar o povo e enxovalha a própria República, que ontem celebrou os 100 anos do seu nascimento.
Por muito menos, Bill Clinton teve de responder perante o Senado e quase foi destituído. Ao dr. Gonçalves nada acontece?
Só a nós é que nos acontecem as coisas más? Para além do défice, do primeiro-ministro que temos, dos cortes no vencimento e em tudo o resto, ainda temos de suportar o dr. Santos e o dr. Gonçalves?
Reparo que, quer o primeiro-ministro quer o dr. Almeida Santos quer o dr. Ricardo Gonçalves, todos são do PS. Mas trata-se, naturalmente, de uma infeliz coincidência.