«Quem fez esta vigarice devia ir preso» (Manuela Ferreira Leite - sobre o orçamento)
Orçamento de Estado perdoa autarcas com processos no Tribunal de Contas
Governo propõe extinguir organismos que já estavam extintos
Portugal cai para 40.º lugar na liberdade de imprensa
Despesa das administrações públicas este ano ultrapassa em 3417 milhões o limite do previsto
Educação terá menos 800 milhões para gerir
Madeira aumenta financiamento aos partidos
Assembleia Legislativa da Madeira
recusa diminuir os vencimentos dos políticos da região
«Sinto tristeza com a situação que vivemos» (Cavaco Silva)
Financiamento: Partidos insistem nos donativos anónimos
Governo quer tirar benefícios a igrejas, mas não à Igreja Católica
Famílias com rendimento mensal acima de 629 euros perdem abono já em Novembro
Orçamento de Estado perdoa autarcas com processos no Tribunal de Contas
Governo propõe extinguir organismos que já estavam extintos
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Sol (22/10/10)
Despesa das administrações públicas este ano ultrapassa em 3417 milhões o limite do previsto
Educação terá menos 800 milhões para gerir
Madeira aumenta financiamento aos partidos
Assembleia Legislativa da Madeira
recusa diminuir os vencimentos dos políticos da região
Público (22/10/10)
«Sinto tristeza com a situação que vivemos» (Cavaco Silva)
Financiamento: Partidos insistem nos donativos anónimos
Expresso (23/10/10)
Governo quer tirar benefícios a igrejas, mas não à Igreja Católica
Famílias com rendimento mensal acima de 629 euros perdem abono já em Novembro
Público (23/10/10)
Compreendo a tristeza de Cavaco Silva, como imagino que ele compreenda a minha. É possível que haja razões comuns na nossa comum tristeza. Mas talvez eu tenha razões para estar ainda um pouco mais triste: enquanto professor, fui alvo de sucessivos decretos-leis que visaram destruir a função docente, e essa legislação teve sempre a assinatura e o elogio público do sr. Presidente da República; enquanto português, vi o meu País ser publicamente enxovalhado pelo presidente da República Checa e vi o sr. Presidente da República de Portugal, a seu lado, não proferir uma palavra contra esse enxovalho; enquanto cidadão, assisti a uma grotesca comunicação que o sr. Presidente da República Portuguesa dirigiu aos País, a propósito de uma fandanga história de escutas; e, enquanto contribuinte, vejo o sr. Presidente da República a acumular, alegre e naturalmente, o seu vencimento e a reforma do Banco de Portugal.
Apesar de existirem muitas outras razões, estas, só por si, justificam que eu esteja um pouco mais triste do que Cavaco Silva.
«Quem fez esta vigarice [de orçamento] devia ir preso» terá dito Manuela Ferreira Leite, no Conselho Nacional do PSD. Eu também concordo. E se a ex-líder social-democrata não se importar, eu acrescentaria: e quem fez o orçamento do ano passado também, e do ano anterior a esse igualmente, e, já agora, o do ano... O problema é saber onde parar. E, no seguimento, a própria Ferreira Leite poderia também ver-se metida neste imbróglio.
É claro que os políticos não são todos iguais e que Sócrates já ultrapassou, há muito, todos os limites da decência política — já são poucos aqueles que duvidam de que ele ficará na história como um exemplo de incompetência difícil de ultrapassar. Sócrates não tem par, e é pena ainda não ser possível acusar criminalmente um político, pois ele seria, sem dúvida, o primeiro a ter de responder na barra do tribunal.
Mas o problema não reside apenas na vigarice deste orçamento, o problema reside numa vigarice muito maior. E quanto a essa vigarice maior, quer o PS quer o PSD estão de acordo. Refiro-me à vigarice de ser o sector público a ter de suportar as burlas e as trapaças do sector financeiro privado. Refiro-me à vigarice que é aceitar que o sector financeiro privado e o sector privado em geral vivam a reclamar contra o Estado e, quando as fraudes por eles provocadas vêm à tona, seja o Estado a pagar os danos. Refiro-me à vigarice de vivermos num sistema que permite que os lucros astronómicos fiquem na posse de poucos e os prejuízos sejam pagos por todos. E contra esta vigarice não oiço muitos a levantar a voz, nomeadamente, não oiço a voz de Manuela Ferreira Leite.
É, pois, com interesse que acompanho o que se está a passar em França. Não me refiro, obviamente, às acções criminosas de arruaceiros profissionais, refiro-me à oposição firme, através de sucessivas greves gerais e de manifestações, de milhões de Franceses, à política que, sistematicamente, prejudica quem trabalha e mantém intactos os obscenos privilégios da minoria economicamente dominadora.
Há, assim, duas vigarices: a vigarice deste orçamento e a vigarice que suporta as regras deste sistema económico. Opormo-nos seriamente à primeira vigarice implica opormo-nos também seriamente à segunda.
Apesar de existirem muitas outras razões, estas, só por si, justificam que eu esteja um pouco mais triste do que Cavaco Silva.
«Quem fez esta vigarice [de orçamento] devia ir preso» terá dito Manuela Ferreira Leite, no Conselho Nacional do PSD. Eu também concordo. E se a ex-líder social-democrata não se importar, eu acrescentaria: e quem fez o orçamento do ano passado também, e do ano anterior a esse igualmente, e, já agora, o do ano... O problema é saber onde parar. E, no seguimento, a própria Ferreira Leite poderia também ver-se metida neste imbróglio.
É claro que os políticos não são todos iguais e que Sócrates já ultrapassou, há muito, todos os limites da decência política — já são poucos aqueles que duvidam de que ele ficará na história como um exemplo de incompetência difícil de ultrapassar. Sócrates não tem par, e é pena ainda não ser possível acusar criminalmente um político, pois ele seria, sem dúvida, o primeiro a ter de responder na barra do tribunal.
Mas o problema não reside apenas na vigarice deste orçamento, o problema reside numa vigarice muito maior. E quanto a essa vigarice maior, quer o PS quer o PSD estão de acordo. Refiro-me à vigarice de ser o sector público a ter de suportar as burlas e as trapaças do sector financeiro privado. Refiro-me à vigarice que é aceitar que o sector financeiro privado e o sector privado em geral vivam a reclamar contra o Estado e, quando as fraudes por eles provocadas vêm à tona, seja o Estado a pagar os danos. Refiro-me à vigarice de vivermos num sistema que permite que os lucros astronómicos fiquem na posse de poucos e os prejuízos sejam pagos por todos. E contra esta vigarice não oiço muitos a levantar a voz, nomeadamente, não oiço a voz de Manuela Ferreira Leite.
É, pois, com interesse que acompanho o que se está a passar em França. Não me refiro, obviamente, às acções criminosas de arruaceiros profissionais, refiro-me à oposição firme, através de sucessivas greves gerais e de manifestações, de milhões de Franceses, à política que, sistematicamente, prejudica quem trabalha e mantém intactos os obscenos privilégios da minoria economicamente dominadora.
Há, assim, duas vigarices: a vigarice deste orçamento e a vigarice que suporta as regras deste sistema económico. Opormo-nos seriamente à primeira vigarice implica opormo-nos também seriamente à segunda.