domingo, 1 de maio de 2011

Maio, 1


Hoje — Dia do Trabalhador — os trabalhadores portugueses não têm qualquer razão para festejar, mas têm todas as razões para protestar, para contestar, para mostrar a enorme indignação que sentem pela situação com que estão confrontados e pela qual não têm responsabilidade.
Na verdade, e ao contrário do que repetidamente se ouve no discurso político de grande parte dos responsáveis governamentais e partidários, a responsabilidade pelo estado a que o país chegou não é de todos.
O enorme endividamento do Estado é da responsabilidade de quem tem gerido o Estado. Em primeiríssimo lugar, é da responsabilidade do Governo e, seguidamente, de todos aqueles que, nas administrações regionais ou locais, gastaram mal o dinheiro que não era seu.
O ainda maior endividamento privado (empresas e famílias) é, em primeiríssimo lugar, da responsabilidade de quem emprestou o dinheiro e, depois, mas de modo pouco significativo, daqueles que solicitaram empréstimos sem terem condições de o pagar. A verdadeira responsabilidade da dívida privada é daqueles que gerem os bancos, porque só eles sabiam, e só eles poderiam saber, o volume global dessa dívida, e se ela estava a atingir, ou não, um nível insustentável. A responsabilidade é das administrações dos bancos, porque, tendo elas conhecimento do excessivo endividamento a que se estava a chegar, continuaram irresponsavelmente a promover o recurso generalizado ao crédito. E, finalmente, a responsabilidade é dos bancos, porque são eles os profissionais, são eles os técnicos, que analisam, que avaliam se o dinheiro que emprestam é emprestado a quem tem condições de o pagar. Quem toma a decisão final de proceder ao empréstimo é o banco, não é quem o solicita, quem toma a decisão do montante do juro é o banco, não é quem o solicita, quem toma a decisão do montante do spread é o banco, não é quem o solicita.
Portanto, a responsabilidade da dívida pública é dos governos de Sócrates, a responsabilidade da dívida privada é dos donos e das administrações dos bancos e do Banco de Portugal.
O 1.º de Maio deste ano tem um alvo: o actual poder político e o actual poder financeiro.