Por responsabilidade das elites que nos governam, política e financeiramente, estamos a viver um momento mau e iremos viver, nos próximos anos, momentos péssimos. Se nada fizermos, o nível de vida que cada um tinha, há um ou dois anos, irá descer de forma drástica e, para muitos, para além de drástica será de forma dramática.
Todos nós sentimos uma mais que legítima indignação pela gravíssima situação a que esses responsáveis nos conduziram. E a indignação aumenta, quando os observamos a passear, de terra em terra, com o mesmo à vontade com que levaram Portugal e os portugueses à ruína.
É inaceitável que aquilo a que se chama responsabilidade política acabe por ser sinónimo de impunidade cívica. O pior que pode acontecer a um político português que conduz o seu país à bancarrota é perder as eleições (se as perder...). Nada mais acontece. Conduz à ruína milhares de famílias, deixa um rasto de miséria e sofrimento e, sobre isso, nunca prestará contas. A impunidade cívica é total.
Que nos resta? Se atendermos aos discursos dominantes, nada nos resta, que não seja a aceitação deste fado. De duas formas: ou, ainda que raiando o absurdo, reelegendo quem nos trouxe até aqui, ou elegendo quem, não nos tendo trazido até aqui, nada de substancialmente diferente tem para propor. Vivemos há cerca de trinta e cinco anos governados pelos mesmos, ou, melhor, pelas mesmas políticas. PS, PSD e CDS tiveram trinta e cinco anos para mostrar o que valem. Valem isto a que chegámos.
Curiosamente, estes três partidos apresentam-se como exclusivos representantes da responsabilidade: eles são os partidos responsáveis, os outros são os partidos irresponsáveis. A perplexidade chega quando verificamos que foi a «responsabilidade» que nos trouxe até aqui: à bancarrota e à disseminação da miséria.
O realismo, a sensatez, o bom senso, o equilíbrio são outros dos atributos reivindicados em exclusivo por esta outra troika (PS, PSD, CDS); por sua vez, o irrealismo, o aventureirismo, o radicalismo são características atribuídas às restantes forças políticas. A perplexidade chega quando verificamos que foi precisamente o «realismo», a «sensatez», o «bom senso» e o «equilíbrio» que nos trouxeram até aqui...
Esta história que coloca os bons de um lado e os maus do outro é enternecedora, como qualquer história infantil o é, mas não passa disso, não passa de uma história com enredo infantil, ainda que contada a adultos; todavia, é uma história que, diferentemente do conto infantil, não acaba bem, acaba mal.
É, pois, em nome do realismo, da sensatez, do bom senso, do equilíbrio e da responsabilidade que me sinto impedido de votar em quem há trinta e cinco anos domina a política portuguesa e deixou o país no estado em que está.
É, pois, em nome do realismo, da sensatez, do bom senso, do equilíbrio e da responsabilidade que me sinto impedido de votar em quem há trinta e cinco anos domina a política portuguesa e deixou o país no estado em que está.