sábado, 21 de maio de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

O espelho chinês

«Um espelho é muitas vezes acessório do sonho.
Um lavrador chinês foi à cidade vender o seu arroz. A mulher pediu-lhe:
— Se fazes favor, traz-me um pente.
Na cidade vendeu o seu arroz e foi beber com os amigos. No momento de partir, lembrou-se da mulher. Tinha-lhe pedido qualquer coisa, mas o quê? Impossível recordar-se. Comprou um espelho numa loja para senhoras e voltou para a aldeia.
Deu o espelho à mulher e saiu de casa para ir para o campo. A mulher viu-se ao espelho e pôs-se a chorar. A sua mãe, que a viu a chorar, perguntou-lhe a razão daquelas lágrimas.
A mulher estendeu-lhe o espelho, dizendo:
— O meu marido reduziu-me a Segunda Esposa.
A mãe pegou por sua vez no espelho, olhou-o e disse à filha:
— Não tens que te inquietar, ela é já muito velha.»
In Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos.