quarta-feira, 18 de maio de 2011

Às quartas

O ANJO

De pé com a sua estatura de lembranças,
claro como a água erguida contra a luz,
o amante da pobreza
constrói a minha biografia.
Amo o ser infatigável que me fere com silêncios.
Danço em redor do seu paraíso
como um cão solícito,
onde abandonei a nostalgia
agora serenamente mortal.
Se a sua espada incandescente de memória
repousasse como o meu sangue em suas noites!
Porém, está aqui
como o álamo hirto em sua perfeição,
com a asa lenta, quase fluvial,

sobre o ombro,
sobre este lugar de carne determinada e libertária.
A perscrutar se há uma cruz,
se existe mesmo uma leve dor atenuada.
Volta o rosto poderoso
como uma dália com a energia
intolerável do carvalho,
como a estrela com a fúria agitada
e rútila do relâmpago.

Pablo Antonio Cuadra
(Trad.: Jorge Henrique Bastos)