O recém-aparecido ministro das Finanças declarou hoje, em conferência de impressa, que estava satisfeito com o resultado alcançado nas negociações com a troika, que estava satisfeito com o seu trabalho à frente do ministério e que estava satisfeito consigo próprio, porque tinha cumprido o seu dever durante os dois mandatos. Há dias o primeiro-ministro também revelou, por motivos idênticos, a sua grande e sentida satisfação.
Confesso não compreender estas manifestações de regozijo.
Elas fazem lembrar a história da hiena: depois do professor apresentar três características típicas da hiena (parecer estar sempre a sorrir, copular uma vez por ano e poder alimentar-se das suas próprias fezes), um aluno faz a pergunta inevitável: «Professor, se a hiena come dejectos e só faz amor uma vez por ano, ela ri de quê?» Adaptando, pergunta idêntica deve ser dirigida ao ministro das Finanças e ao primeiro-ministro: se ao fim de seis anos de governo, deixam o país endividado como nunca esteve, descredibilizado e empobrecido; e se o acordo com a troika ainda prevê um brutal agravamento dos impostos, um brutal agravamento do desemprego, dois anos de recessão e, consequentemente, um brutal empobrecimento dos portugueses, o ministro das Finanças e o primeiro-ministro estão satisfeitos com quê?
Se, na realidade, é difícil compreender o sorriso da hiena, não é mais fácil compreender a satisfação de Sócrates e de Teixeira dos Santos.