«Preciso desesperadamente de uma bebida bem forte. Por razões meramente de pesquisa, como é óbvio. Antes da minha viagem, pessoas que conheciam a Islândia tinham-me dito que para chegar ao âmago da alma islandesa, que para se compreender por que razão estes descendentes dos Vikings são como são, era preciso observá-los no seu estado: embriagados.
Por feliz coincidência, chego num sábado, em pleno decadente fim-de-emana islândes, o qual não deve ser confundido com a sóbria semana islandesa. Os islandeses praticam a indulgência, entre aspas. Acreditam que tudo deve ser feito com moderação, inclusivamente a própria moderação. Durante o fim-de-semana, é perfeitamente aceitável embriagarem-se até atingirem um estado comatoso mas se, a uma terça-feira à noite, bebericarem mais do que um copinho de Chardonnay, ficam logo rotulados de alcoólicos. Os islandeses atribuem esta excentricidade, assim como todos os seus pequenos pecados, à sua herança Viking. Segundo reza a teoria: durante os difíceis anos que já lá vão, as pessoas nunca sabiam quando é que chegava a próxima pescaria ou a próxima colheita de vegetais, por isso, quando tal acontecia, devoravam-nas sofregamente. Como é óbvio, actualmente não existe falta de nada na Islândia, excepto luz solar, mas a velha mentalidade das comezainas ainda subsiste, tal como um apêndice ou um cóccix. Apenas mais divertido.
Na verdade, a melhor explicação para estes excessos de vida dos fins-de-semana foi-me dada por um pinguim com uma queimadura solar. Está bem, não foi um pinguim verdadeiro, mas sim um islandês de nome Magnus que vive em Miami Beach. Quando nos encontrámos para almoçar, veio-me instantaneamente à ideia a figura de um pinguim - imagem essa que tentei, sem sucesso, apagar da minha cabeça, durante as duas horas em que estivemos a comer e a beber no café de uma livraria. Magnus acredita que os islandeses bebem muito porque a população é muito pequena. Vêem as mesmas caras familiares, dia após dia. Quando chegam ao fim-de-semana, precisam de fazer uma pausa, mas sair da Islândia não é fácil. Por isso bebem - imenso - e, subitamente, essas caras familiares parecem-lhes um pouco menos familiares. "O mundo parece-nos um pouco diferente, um pouco menos familiar"»
Eric Weiner, A Geografia da Felicidade, Lua de Papel, pp. 172-173