sábado, 31 de outubro de 2009

Ao sábado: momento quase filosófico

Acerca do Existencialismo
Para compreendermos o existencialismo, precisamos de ter alguma noção do que foi o Absolutismo Hegeliano do século XIX, o ponto de vista filosófico segundo o qual a única verdadeira imagem da vida é do exterior a olhar para o interior. [...]
George Wilhelm Friedrich Hegel defendeu que a história é p desenrolar no tempo do "Espírito Absoluto". O espírito de uma era (por exemplo, o conformismo reprimido da década de 50 do século XX) gera a sua própria antítese (o movimento hippie da década de 60) e o choque dos dois cria uma nova síntese (os "hippies plásticos" da década de 70, como os banqueiros de Wall Street com os seus cortes de cabelo à Beatles).
E assim continua indefinidamente, uma dialéctica de tese/antítese/síntese (que se torna nova tese), etc.
Hegel estava convencido de que tinha saído da história e estava a observar "Tudo" de um ponto de vista transcendente. Denominou o seu ponto de vista de Absoluto. E do ponto superior em que se encontrava as coisas paraeciam bastante bem. Guerras? Apenas um movimento da dialéctica. Pestilência? Simplesmente outro movimento. Ansiedade? Não era motivo para preocupação. A dialéctica está em movimento e não se pode fazer nada quanto a isso. [...]
Surge em cena Søren Kierkegaard, o contemporâneo de Hegel, e fica indignado. "Que diferença faz que tudo esteja bem do ponto de vista do Absoluto?", pergunta Søren. Esse não é — nem pode ser — o ponto de vista dos indivíduos existentes. Nessa declaração, nasceu o existencialismo. "Eu não sou Deus", afirmou Søren. "Eu sou um indivíduo. Que importa que tudo seja pacífico visto do alto? Eu estou aqui na ponta finita e estou ansioso. Estou em risco de entrar em desespero. Eu. E que interessa que o universo esteja a avançar inevitavelmente — está a ameaçar passar por cima de mim!"[...]
O filósofo francês do século XX, Jean-Paul Sartre, corrigiu a ideia de Kierkegaard do isolamento assustador de um indivíduo e estendeu as implicações para a liberdade e responsabilidade humanas. Na interpretação de Jean-Paul, "a existência precede a essência», querendo com isto dizer que os seres humanos não têm essência predeterminada da mesma forma que, por exemplo, um cabide tem. Nós somos indeterminados, sempre livres para nos reinventarmos.
Jean-Paul Sartre tinha estrabismo divergente e não era um fulano muito atraente. Portanto, pode ter sido apanhado de surpresa quando o seu colega existencialista, Albert Camus, expandiu a noção de Sartre da liberdade humana ao dizer: "Lamentavelmente, após uma certa idade todos os homens são responsáveis pelo rosto que têm." Curiosamente, Camus era muito parecido com Humphrey Bogart.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar..., pp. 143-146.