sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Uma reportagem e algumas perguntas

Excertos de uma reportagem sobre a professora Maria do Rosário Gama, presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta Dona Maria, de Coimbra, a primeira escola pública do ranking:
«Não sendo novidade o facto da Dona Maria ser a primeira escola pública do ranking, nenhum jornalista terá ficado especialmente entusiasmado com a perspectiva de mais uma reportagem sobre o assunto. Mas eis que surpreende todos, até os colegas, Rosário Gama decide [...] clamar que, graças ao modelo de avaliação, não tardará muito que o seu estabelecimento de ensino venha por aí abaixo na lista das escolas com melhores resultados.»

«[...] "O modelo [é] burocrático e gerador de injustiças e de conflitos que consome o tempo e a energia que os professores deviam dedicar aos alunos."»

« Isto não é de agora. No período que antecedeu a manifestação dos cem mil professores, em Março, e nos meses seguintes, tornou-se um dos rostos mais visíveis da contestação ao modelo de avaliação e ao Governo de José Sócrates, que ajudou a eleger. Pois é, ajudou. E não se limitou a votar no PS - é militante, com cartão e tudo.»

«"Como é que o Governo pode ignorar 100 mil pessoas que protestam nas ruas? Como é que possível que feche os olhos ao que hoje se passa nas escolas? Este Governo confundiu maioria absoluta com poder absoluto."»

«Maria do Rosário recorda que em defesa da reforma do ensino chegou a dar, umas atrás das outras, aulas de substituição - as que lhe cabiam e as dos outros, que as contestavam. O tempo provou que "estava errada", diz. "E não podia assistir quieta à destruição da escola pública, só porque sou do PS."»
In Público (7/11/2008)
Senhora ministra da Educação:
1. Parece-lhe que esta professora está contra o modelo porque não quer ser avaliada?

2. Parece-lhe que esta professora está contra o modelo de avaliação porque é uma sindicalista militante?

3. Parece-lhe que esta professora está contra o modelo de avaliação porque está a ser instumentalizada por algum partido?

4. Parece-lhe que esta professora está contra o modelo de avaliação porque tem medo que o mérito seja distinguido da incompetência?

5. Depois da manifestação de amanhã; depois de dezenas de escolas já terem suspendido o processo de avaliação imposto pelo seu Ministério; depois de saber que já há associações de pais a pronunciarem-se publicamente contra o seu modelo de avaliação; depois de saber que os professores se recusam a dar cumprimento à aberração avaliativa criada por si; que pensa fazer, senhora ministra?
Vai continuar a repetir os mesmos clichés políticos para tentar justificar o que nunca teve justificação?
Vai continuar a derramar arrogância política e a cultivar insensatez?
Ou vai, pela primeira vez, em três anos e meio de exercício do poder, tomar uma atitude política de clarividência e de bom senso?
Isto é, vai ser capaz de se demitir?
Vai ser capaz de prestar esse serviço à Educação e ao país?