domingo, 2 de novembro de 2008

Adiar a manifestação de 15 de Novembro

Não vou falar de coisas que não sei, isto é, não vou comentar o modo como foram conduzidas, por parte dos movimentos independentes, as reuniões com a Fenprof. E, como já escrevi no post anterior, há um elemento importante que não é conhecido, pelo menos eu não conheço: o nível de adesão que a manifestação de 15 de Novembro estava a desencadear. E esta informação é relevante para se poder avaliar, com algum fundamento, os acontecimentos dos últimos dias.
Falarei, apenas, de factos e de como, do meu ponto de vista, se deverá agir no futuro próximo.
Facto 1: Bem ou mal — neste momento, isso pouco interessa —, os três movimentos de professores (APEDE, MUP e PROmova), envolvidos nas negociações com a Fenprof, decidiram apoiar a manifestação do próximo dia 8, marcada pelos sindicatos.
Facto 2: O PROmova declarou publicamente que os autocarros alugados para a manifestação do dia 15 deveriam ser, agora, canalizados para o dia 8.
Facto 3: O MUP e a APEDE apoiam a manifestação do dia 8 e mantêm a convocatória para o dia 15.

Com respeito por quem tem feito um trabalho meritório na luta contra a política educativa do Governo (refiro-me, obviamente, a estes três movimentos), sou de opinião que estão a ocorrer duas coisas que teriam/têm de ser evitadas:
1.ª Deveria ter sido evitada, a todo o custo, esta divergência, pública e notória, entre os movimentos independentes. Se neste domínio não é possível um entendimento mínimo a três, que acontecerá em matérias muito mais complexas como aquelas que no futuro se colocarão? É evidente que o exercício da autonomia é um valor que tem de ser preservado, mas, neste momento, mais do que o livre exercício de um direito está um objectivo muito claro a alcançar: destruir este incompetente e indigno modelo de avaliação de professores.
Os movimentos independentes são o elemento mais importante na oposição à política emanada da 5 de Outubro. São o elemento mais temido, quer pelo Governo quer pelos sindicatos. Não afirmo isto movido pela simpatia, assumida, que tenho por esses movimentos, afirmo-o porque me parece um facto evidente, que a seguir justificarei. Ora, a perda de coesão, a incapacidade de coordenação, retira-lhes poder de influência.

2.ª
Depois de ter sido declarado — repito: bem ou mal, neste momento, pouco interessa — o apoio à manifestação de 8 de Novembro, manter a manifestação do dia 15, não me parece ser o caminho correcto a seguir. Por duas razões:

a)
A manifestação do dia 15 foi marcada de modo justificado e oportuno. Correspondeu, plenamente, aos desejos de milhares de professores, que já reclamavam uma iniciativa nacional, e despoletou, objectivamente, a onda de suspensões do processo avaliativo, que não mais parou de crescer, desde então. Simultaneamente, obrigou os sindicatos a mexerem-se, para não ficarem inexoravelmente ultrapassados. Foi assim que nasceu a manifestação do dia 8. Ora a partir do momento em que é dado apoio formal à manifestação da plataforma sindical por parte de quem convocou a do dia 15, esta perde o estatuto de primeira manifestação, perde força mobilizadora e, facilmente, quer sindicatos quer o Governo, a tentarão transformar num encontro de radicais sem expressão nem importância. É natural que a manifestação de 15, que, agora, já não se apresenta como alternativa à do dia 8, mas complementar, venha a ter uma adesão muito inferior, porque, entre outras razões, não se esperará que os professores de todo o país se desloquem, numa semana, duas vezes seguidas a Lisboa; e porque a primeira tem o apoio dos sindicatos e dos movimentos e a segunda só terá o apoio dos movimentos. Deste modo, perde a manifestação importância e dimensão e perde importância quem a convocou;

b)
Neste contexto, torna-se, pois, imperativo preservar a capacidade de iniciativa para o futuro próximo. Ninguém tem a expectativa de que após o dia 8 de Novembro a luta vai terminar. Ela está no início. Também quase todos estamos de acordo em pensar que os sindicatos, deixados entregues a si próprios, voltarão a repetir o que sempre fizeram: na primeira oportunidade, cederão aos jogos partidários e aos interesses instalados em detrimento da resolução efectiva dos problemas. Só, eventualmente, não o farão se sentirem a presença de algo que ameace o seu controlo do processo de contestação, e essa ameaça só tem corpo, só é real, se os movimentos independentes de professores mantiverem credibilidade e poder de mobilização. Manter, neste momento, a manifestação de 15, com a previsível fraca mobilização que alcançará, vai enfraquecer estes dois atributos, que, a curto prazo, serão vitais para que o pós 8 de Março não se repita.

Penso, deste modo, que o apoio dado à manifestação de 8 de Novembro implica cancelar a manifestação de 15. Ou, melhor, adiá-la, porque ela vai ter de se realizar, mais à frente. Nessa altura, com ou sem o apoio dos sindicatos, ela vai ter de se realizar.