Com a devida vénia ao autor deste artigo, António Pinto Leite.
«A ministra da Educação é uma mulher com sorte.
Lançar um processo de avaliação numa empresa é uma tarefa sempre difícil, muito difícil. Por isso, os líderes das empresas chamam especialistas, estabelecem planos de comunicação sofisticadíssimos, seleccionam "key players" na organização, que agem como aliados, dão passos seguros, são mais persuasivos do que directivos, projectam firmemente o longo prazo, actuando flexivelmente no curto prazo.
O processo é objecto ainda de maior cuidado quando se trata de avaliação entre pares. Numa empresa, criar um processo de avaliação entre pares é uma arte. A arte de conquistar as pessoas, a arte de tornar o processo de avaliação uma necessidade de todos e não uma exigência de poucos.
E há outra arte: levar todos a perceber que o objectivo da avaliação é, em primeiro lugar, melhorar cada um e a própria organização e, só depois, seleccionar e premiar.
Em gestão, é preciso conceber e executar, mas, sobretudo, é preciso 'entregar'. Os bons gestores 'entregam' sempre as suas missões, são "delivers", não falham naquilo que lhes é pedido. Acresce que um processo de avaliação é uma missão que não pode falhar. Se começa, tem de chegar ao fim.
A ministra tem a sorte de não estar numa empresa.
Um gestor de uma empresa que tivesse a responsabilidade de montar um processo de avaliação e apresentasse os resultados que a ministra da Educação apresenta seria dispensado.
Os accionistas querem resultados. Os accionistas do Ministério da Educação são os portugueses em geral e têm o legítimo direito de exigir resultados aos seus gestores: a ministra e o Governo.
Os resultados são esta confusão.
Cento e vinte mil professores na rua é o recorde do 25 de Abril. Dá direito a Guiness.
Mesmo que o Governo imponha a avaliação às escolas, ou vá de remendo em remendo, o mal está feito. Está criada uma bomba-relógio que vai explodir nas mãos deste ou do próximo governo.
A onda de choque entre professores e Governo passará a ser entre os próprios professores, e esse mal-estar voltar-se-á, de novo, contra o Governo.
Se fosse numa empresa estaria tudo errado: os avaliados percepcionaram o modelo pela negativa e não pela positiva (consideram que a avaliação é para os penalizar e não para os melhorar), não há confiança na escolha dos avaliadores e o modelo é tão pesado que é sentido como provocatório pelos seus destinatários.
Mesmo a opção inicial por um sistema de quotas é questionável. As quotas são o sistema mais agressivo em termos de avaliação, porquê começar por ele?
A avaliação não é um momento, nem sequer um processo. A avaliação é um modo de vida.
Ora, o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.
A sorte da ministra é a política, são as eleições, é o mecanismo de auto-defesa da autoridade dos governos, é o facto de as aparências valerem mais de que os resultados.
Numa empresa seria substituída.
A sorte da ministra é não ser avaliada.»
«A ministra da Educação é uma mulher com sorte.
Lançar um processo de avaliação numa empresa é uma tarefa sempre difícil, muito difícil. Por isso, os líderes das empresas chamam especialistas, estabelecem planos de comunicação sofisticadíssimos, seleccionam "key players" na organização, que agem como aliados, dão passos seguros, são mais persuasivos do que directivos, projectam firmemente o longo prazo, actuando flexivelmente no curto prazo.
O processo é objecto ainda de maior cuidado quando se trata de avaliação entre pares. Numa empresa, criar um processo de avaliação entre pares é uma arte. A arte de conquistar as pessoas, a arte de tornar o processo de avaliação uma necessidade de todos e não uma exigência de poucos.
E há outra arte: levar todos a perceber que o objectivo da avaliação é, em primeiro lugar, melhorar cada um e a própria organização e, só depois, seleccionar e premiar.
Em gestão, é preciso conceber e executar, mas, sobretudo, é preciso 'entregar'. Os bons gestores 'entregam' sempre as suas missões, são "delivers", não falham naquilo que lhes é pedido. Acresce que um processo de avaliação é uma missão que não pode falhar. Se começa, tem de chegar ao fim.
A ministra tem a sorte de não estar numa empresa.
Um gestor de uma empresa que tivesse a responsabilidade de montar um processo de avaliação e apresentasse os resultados que a ministra da Educação apresenta seria dispensado.
Os accionistas querem resultados. Os accionistas do Ministério da Educação são os portugueses em geral e têm o legítimo direito de exigir resultados aos seus gestores: a ministra e o Governo.
Os resultados são esta confusão.
Cento e vinte mil professores na rua é o recorde do 25 de Abril. Dá direito a Guiness.
Mesmo que o Governo imponha a avaliação às escolas, ou vá de remendo em remendo, o mal está feito. Está criada uma bomba-relógio que vai explodir nas mãos deste ou do próximo governo.
A onda de choque entre professores e Governo passará a ser entre os próprios professores, e esse mal-estar voltar-se-á, de novo, contra o Governo.
Se fosse numa empresa estaria tudo errado: os avaliados percepcionaram o modelo pela negativa e não pela positiva (consideram que a avaliação é para os penalizar e não para os melhorar), não há confiança na escolha dos avaliadores e o modelo é tão pesado que é sentido como provocatório pelos seus destinatários.
Mesmo a opção inicial por um sistema de quotas é questionável. As quotas são o sistema mais agressivo em termos de avaliação, porquê começar por ele?
A avaliação não é um momento, nem sequer um processo. A avaliação é um modo de vida.
Ora, o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.
A sorte da ministra é a política, são as eleições, é o mecanismo de auto-defesa da autoridade dos governos, é o facto de as aparências valerem mais de que os resultados.
Numa empresa seria substituída.
A sorte da ministra é não ser avaliada.»
António Pinto Leite, Expresso (22/11/08)