São cada vez maiores os riscos neste combate (desigual) que travamos com o Ministério da Educação.O maior de todos os riscos é parar a luta em nome de uma qualquer solução de compromisso, na lógica de que "enquanto o pau vai e vem folgam as costas".
Que não haja ilusões: a suspensão do execrável modelo de avaliação de desempenho em vigor, ou a sua substituição por algo mais "leve", pode ser o bastante para os sindicatos cantarem vitória, deixando que o fundamental se mantenha, isto é, um Estatuto da Carreira Docente baseado em princípios que espezinharam direitos elementares e geraram verdadeiras atrocidades na divisão, no escalonamento e na progressão da carreira.
Desde o início que, como muitos outros, assumi que esta luta nunca poderia limitar-se ao modelo de avaliação de desempenho, teria que ser contra um ECD absolutamente indigno de um Estado de Direito, um ECD que é a fonte dos maiores absurdos com que nos deparamos no quotidiano das escolas. É facto que a suspensão do modelo será uma vitória muito importante e, consequentemente, uma derrota, não menos importante, da mais vergonhosa política educativa desde 1974. Mas, de pouco valerá se nada mais mudar.
Outros risco que enfrentamos é a quebra da mobilização no arrastar do conflito. Neste domínio, os sindicatos têm a principal responsabilidade: aproveitaram a iniciativa de movimentos independentes (e mesmo espontâneos) para capitalizarem o imenso descontentamento expresso nas ruas. Têm agora a oportunidade histórica de se redimirem de práticas que, particularmente no ensino secundário, levaram muitos a deixarem de ser sindicalizados.
Outro risco, cada vez mais significativo, é a expressão e a cobertura do conflito nos órgãos de comunicação, também eles reflexo dos efeitos de um estilo de governação que fez da ASAE o seu paradigma. E não tenhamos ilusões: o Poder está atento e não abdica de usar todas as armas. Nos meios de comunicação a nossa luta é com fisgas. O Governo tem canhões.
Mas o Governo, cuja máquina de propaganda não pára, tem também ao seu serviço um número significativo de "escreventes" mediáticos, verdadeiros comissários políticos encapotados, mas serviçais, alguns a coberto de uma imagem de independência suportada em dissidências de vária ordem (partidária, profissional, etc). Rangel, Sousa Tavares e Vital Moreira são os exemplos mais visíveis.
Mas eis que ontem, no jornal mais lido pelos que não compram jornais (e está aí muito do seu peso na opinião do português comum), O «Correio da Manhã», um Jornalista (deve ser alcunha) de seu nome António Ribeiro Ferreira, na crónica Estado do Sítio, profere um ataque aos professores que deveria merecer, da parte das organizações sindicais, imediato procedimento judicial por ofensas à honra e à dignidade profissional.
A repugnância que a leitura do texto do dito Ferreira provoca é de tal ordem que somos levados a pensar que só pode tratar-se de um inimputável. A linguagem é reles, o estilo boçal, a argumentação um arrazoado insultuoso de adjectivos.
Mas o sujeito diz duas verdades: há muitos "licenciados em Universidades da treta, com cursos da treta. ... deste sítio ... cada vez mais mal frequentado". Acontece que, apesar de tudo, os tais licenciados da treta(!) que existem no ensino só são considerados "licenciados" da porta da escola para dentro e não constituem a maioria dos professores. Outros, desses licenciados da treta em Universidades da treta ... chegaram a altos cargos, incluindo a chefia do Governo que este caceteiro da língua tão ferozmente defende. Também é verdade que o sítio é mal frequentado. Se não o fosse, como poderia o dito Ferreira ter direito a escrever num jornal?!
Não sei se o dito Ferreira é um caso de polícia ou de psiquiatria. Pode ser que alguém tome conta do caso. Eu ... fiz o que podia.