«Reduzir. "Reduzir" significa, em primeiro lugar, diminuir o impacto na biosfera das nossas maneiras de produzir e de consumir. Trata-se desde logo de limitar o excesso de consumo e o desperdício incrível a que estamos habituados: 80% dos bens colocados nos mercados só são utilizados uma vez até serem atirados directamente para o lixo! Hoje em dia, os países ricos produzem 4 mil milhões de toneladas de lixo por ano. A produção de lixo doméstico nos Estados Unidos é de 760 kg por habitante, por ano, em França de 380 kg e na maior parte dos países do sul de 200 kg. Há outras reduções desejáveis, desde os riscos para a saúde às horas de trabalho. A redução dos riscos para a saúde deveria implicar a "precauvenção" (prevenção/precaução), para retomar o neologismo do professor Belpomme, e não tanto o tratamento. [...]
Outra redução necessária: o turismo de massa. A idade de ouro do consumismo quilométrico está ultrapassada. [...] O desejo de viajar e o gosto pela aventura, que estão, sem dúvida, inscritos no coração do homem, são uma fonte de enriquecimento que não deve ser estancada, mas a curiosidade legítima e a investigação educativa foram transformadas pela indústria turística em consumo mercantil destruidor do ambiente, da cultura e do tecido social dos países-alvo. [...] Segundo os Artisans du Monde, numa viagem de 1000 euros com tudo incluído, apenas menos de 200 euros, em média, são destinados ao país de acolhimento. [...]
Por último, reduzir o tempo de trabalho é um elemento essencial, que voltaremos a encontrar a propósito da política de luta contra o desemprego. Trata-se, é claro, de partilhar o trabalho para que todos os que o desejem possam ter um emprego. [...]
Não seremos capazes de edificar uma sociedade serena de decrescimento se não recuperarmos as dimensões recalcadas da vida: o tempo de cumprir o dever de cidadão, o prazer das actividades de fabricação livre, artística ou artesanal, a sensação de voltar a dispor de tempo para o jogo, a contemplação, a meditação, a conversa ou até mesmo apenas o prazer de estar vivo.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.