«Reavaliar. Vivemos em sociedades que se baseiam em velhos valores "burgueses": a honestidade, o serviço do Estado, a transmissão do saber, o trabalho bem feito, etc. Todavia, "estes valores, como é óbvio, tornaram-se irrisórios [...] apenas conta a quantidade de dinheiro que se tiver embolsado, pouco importando como, ou o número de vezes que se apareceu na televisão" [Cornelius Castoriadis].
Podemos dizê-lo doutro modo, de acordo com Dominique Belpomme: a "parte mais baixa" do sistema revela "uma megalomania individualista, uma recusa da moral, um gosto pelo conforto, um egoísmo"... De imediato reconhecemos os valores a que se deve dar prioridade relativamente aos valores (ou ausência de valores) dominantes actuais. O altruísmo, a cooperação, o prazer do lazer e o ethos do jogo, a importância da vida social, o local, a autonomia, o gosto pela obra bela, o razoável e o relacional, por exemplo, deveriam substituir, respectivamente, o egoísmo, a competição desenfreada, a obsessão pelo trabalho, o consumo ilimitado, o global, a heteronomia, a eficiência produtivista, o racional e o material. "Preocupação com a verdade, sentido de justiça, responsabilidade, respeito pela democracia, elogio da diferença, dever de solidariedade, vida do espírito: eis os valores que é necessário reconquistar custe o que custar, porque constituem a base do nosso desenvolvimento e a nossa salvaguarda para o futuro [Dominique Belpomme].»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.