segunda-feira, 11 de junho de 2012

Espanha, Espanha, Espanha

Pouco tempo depois de tomar posse do seu primeiro mandato de chefe de governo, Sócrates fez questão de enfatizar que a sua primeira visita a um país estrangeiro seria a Espanha. 
Durante essa visita, Sócrates afirmou — com o aparato próprio de quem pensa que sempre que diz algo profere uma declaração histórica —: «A nossa 1.ª prioridade é Espanha; a 2.ª prioridade é Espanha; e a 3.ª prioridade é Espanha.» A justificação de tal obsessão era: «A economia espanhola está a crescer a bom ritmo, acima da média europeia, e isso interessa a Portugal
Nunca compreendi como é que um primeiro-ministro de um país independente pode pensar desenvolver uma relação de dependência económica com um outro país. Nunca compreendi que um primeiro-ministro de um país independente pudesse pensar isso e muito menos imaginei que o pudesse dizer — do ponto vista económico, é uma estultícia; e, do ponto de vista político, é uma proclamação de subserviência. Mas Sócrates disse-o, com o à-vontade e com a convicção com que disse e fez os incontáveis dislates que desgraçadamente conhecemos.
Contudo, Sócrates não estava sozinho neste discurso, a nossa elite económica, financeira e empresarial pensava o mesmo. Foram inúmeros os economistas, os financeiros e os empresários que insistentemente disseram, repetiram, voltaram a dizer e a repetir que devíamos olhar e aprender com os nossos vizinhos espanhóis, porque eles tinham sabido desenvolver-se de modo sustentado; que os espanhóis tinham um modelo económico estruturado, sólido e duradoiro; que os espanhóis tinham feito as reformas que nós não éramos capazes de fazer; que os espanhóis isto, aquilo e aqueloutro e que tudo o que era espanhol era deslumbrante.
Agora é a altura de perguntar: onde está esta elite política, económica, financeira e empresarial, que de modo lesto, sábio e peremptório propalou ser a Espanha o modelo que deveríamos seguir? Precisamente o modelo que neste momento tem 25% de desempregados e só para a banca teve de pedir um resgate no valor de 100 mil milhões de euros. E este é o modelo de uma procissão que ainda não saiu do adro... Mas foi precisamente este modelo que as nossas elites quiseram mimetizar. 
Enquanto não mudarmos de elites, continuaremos medíocres.