quinta-feira, 7 de junho de 2012

Trechos - Serge Latouche

«Hoje em dia, mais do que nunca, o desenvolvimento sacrifica as populações e o seu bem-estar concreto e local no altar de um bem-estar abstracto e desterritorializado. É claro que este sacrifício em honra dum povo mítico e desencarnado é feito para benefício dos "empresários" do desenvolvimento" (as empresas multinacionais, os responsáveis políticos, os tecnocratas e as máfias). O crescimento actual só é rentável na condição de fazer recair o seu peso e os eu preço sobre a natureza, as gerações futuras, a saúde dos consumidores, as condições de trabalho dos assalariados e, ainda mais, sobre os países do Sul. É por isso que se torna necessária uma ruptura. Todos, ou quase todos, concordam, mas ninguém ousa dar o primeiro passo. Todos os regimes modernos foram produtivistas: repúblicas, ditaduras e sistemas totalitários, quer os seus governos fossem de direita ou de esquerda, liberais, socialistas, populistas, sociais-liberais, sociais-democratas, centristas, radicais ou comunistas. Todos consideraram o crescimento uma pedra angular do seu sistema inquestionável. A indispensável mudança de objectivo não se inclui entre aquelas que uma mera mudança eleitoral possa resolver instalando um novo governo ou votando a favor de uma nova maioria. O que é necessário é muito mais radical: nem mais nem menos do que uma revolução cultural, que deverá desembocar numa refundação da dimensão política.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.