Passos Coelho foi considerado, no jornal espanhol El País, como o «campeão da austeridade e das teses alemãs». O New York Times classificou os portugueses com um povo resignado que, perante a crise, «simplesmente encolhe os ombros».
Desgraçadamente ambas as afirmações são verdadeiras e, apesar de terem sido escritas em contextos diferentes, estão relacionadas. Dizer que Passos Coelho é o campeão da austeridade e das teses alemãs é o mesmo que dizer que Passo Coelho é um político resignado e subserviente. Na verdade, o nosso primeiro-ministro limita-se a cumprir um guião, e fá-lo sem um rasgo de inteligência, de autonomia ou de dignidade. Passo Coelho sempre que fala, seja cá dentro ou lá fora, diz o que o guião diz, no tom e com os movimentos que o guião prevê. Não temos um primeiro-ministro, temos um repetidor de um texto pensado e escrito por outros. Fazer este papel é mau, fazê-lo voluntariamente é ainda pior.
Ao mesmo tempo, o português fadista lamenta-se com a má sorte que misticamente nos caiu em cima. Lamento triste, sofredor, mas sobretudo resignado: «como éramos pobres antes da crise, não faz assim tanta diferença agora», disse um trabalhador ao repórter do jornal nova-iorquino. No fundo, é um destino que se cumpre: o nosso estado natural é sermos pobres, às vezes mais, às vezes menos, mas sempre pobres. Pobres, todavia, honrados, que contra o destino nada mais pode ser feito.
Até o rapaz da cabeça alagada em gel, orgulho da nação, e que é «você cá você lá» com a Presidência da República, já não acerta na baliza, mesmo quando ela se encontra praticamente desabitada.
É a desgraça a que temos direito. Que se há-de fazer?