quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Trechos - Franco Cazzola

Esquerda e direita

«A proposta de Lukes é que a esquerda possa ser definida pelo seu empenho no "projecto de rectificação". Este pode ser expresso de muitas maneiras, com a linguagem pacífica do direito e da justiça, ou com a linguagem belicosa do conflito de classe. Pode escrever a história do alargamento da cidadania e da democracia, ou a da luta contra a exploração e a opressão. Pode concretizar-se de variadas formas organizativas. Em todos os casos, parte da constatação que existem desigualdades injustificadas que a direita considera sagradas e invioláveis, naturais ou inevitáveis (e que ao fazê-lo as torna invisíveis), e que devem ser nomeadas e postas em evidência, para que possam ser reduzidas ou abolidas.
A constatação tem claras implicações:
"Primeiro, que existe um modelo de justiça ou um hipotético ideal em relação ao qual as desvantagens e desigualdades existentes são consideradas injustificadas ou merecedoras de rectificação, uma implícita ou explícita teoria da justiça ou uma visão da igualdade. Segundo, a ideia de que tais desvantagens ou desigualdades são sistemática e estruturalmente causadas por características do sistema social, político e económico: isto é, não são casuais, nem idiossincráticas, nem biologicamente determinadas, nem sequer a considerar como consequência não intencionais de processos incontroláveis. terceiro, que as suas causas são verificáveis através da investigação científica e sistemática. Por último, que possam ser corrigidas e por vezes eliminadas mediante uma intervenção humana resultante de uma vontade política." [Lukes 1997, 309-310]
Por outro lado, foi afirmado que "ser de esquerda significa sentir-se ligado a todos aqueles que lutam pela sua libertação" [Gorz 1993, 123], que a esquerda é favorável à acção pública para "corrigir os resultados do mercado em defesa dos mais fracos", que exprime "a atitude para a mudança em relação aos defensores do status quo na economia, no ordenamento das instituições, na vida da sociedade" [Bosetti 1993, 15].»
Franco Cazzola, O Que Resta da Esquerda, Cavalo de Ferro.