«Quanto a mim, fiquei com o camarote de luxo, não devido às suas dimensões, que não eram assim tão consideráveis, mas às grandes janelas que se estendiam ao longo da popa quadrada.
Ali, nesse compartimento construído para a contemplação do que a América tem de sublime, estava colocada a inevitável máquina, esse pavoroso monumento à inquietação democrática — uma cadeira de baloiço.
Oh, Blacqueville, quem me dera que estivesses aqui para veres estes Americanos! São as pessoas mais turbulentas, mais agitadas, mais insatisfeitas, muito piores que os Italianos ou os Gregos. É óbvio que não existe nada menos propício à meditação do que a democracia. Nunca encontrarás, como na aristocracia, uma classe que se instale no seu próprio conforto e outra que não mexa uma palha porque não tem esperança de alguma vez vir a melhorar o seu estatuto. Na América, toda a gente se encontra num estado de agitação: uns para atingirem o poder, outros para se apoderarem da riqueza, e quando não podem deslocar-se baloiçam.»
Peter Carey, Parrot e Olivier na América, Gradiva.