quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

EVT - carta aberta ao ministro da Educação

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CONTRA A DESTRUIÇÃO DA EDUCAÇÃO VISUAL E TECNOLÓGICA

A grave crise económica e financeira que existe no plano nacional e internacional, tem servido de justificação para se avançar com as mais diversas reformas, nos mais diversos sectores de atividade.
Não se percebe porque é que a Educação Visual e Tecnológica (EVT), uma disciplina de sucesso, que se formou há mais de vinte anos, resultando da junção das disciplinas de Educação Visual e de Trabalhos Manuais, esteja prestes a ser destruída por razões meramente orçamentais, para dar lugar a qualquer coisa que, embora possa lembrar as suas origens, em nada se lhe vai assemelhar, por força da tremenda redução da carga horária, da redução da componente humana e da criação de uma terceira variante (TIC).
Não se percebe que uma disciplina como EVT, com uma forte componente prática, onde são desenvolvidas competências básicas, nomeadamente as que se relacionam com o “saber fazer”, se transforme assim, do dia para a noite, sem qualquer fundamento científico-pedagógico, em duas ou três variantes, com um só professor e uma exígua carga horária semanal. O trabalho manual – o espaço em que se treina “a mão“ dos futuros artistas, cirurgiões, engenheiros, carpinteiros, trolhas, etc. – a partir do próximo ano letivo estará seriamente desamparado. Mas EVT não se reduz à manualidade: o mesmo trabalho manual, associado à busca de soluções técnicas e estéticas é também um espaço privilegiado ao desenvolvimento cognitivo, ao reforço do “saber”. É por demais sabido pela história do desenvolvimento humano, que a mão e o cérebro andaram sempre ligados, e que não foi por mero acaso que evoluímos até ao homo sapiens actual. Porque é que EVT, a partir deste ponto de vista, não foi considerada uma disciplina fundamental?
EVT deveria ter sido vista como uma disciplina essencial, um espaço de confrontação entre o conhecimento científico e o conhecimento prático, um espaço para a experiência, o conhecimento técnico e a arte.
Parece que estamos condenados a perder nestas duas frentes da qualidade do ensino:
Os subprodutos anunciados que poderão advir da substituição da EVT (Educação Visual, Educação Tecnológica e Tecnologias da Informação e Comunicação), levarão à redução da supervisão das actividades lectivas, a uma séria limitação da intervenção pedagógica diferenciada e individualizada – ambas fundamentais ao nível etário dos alunos com que se trabalha – ficando também criadas condições para o aumento da indisciplina na sala de aula e o agravamento das condições de segurança individuais no manuseamento de ferramentas e demais equipamento escolar, ainda que drasticamente reduzido o seu tempo de manipulação. E por fim os cursos que as Escolas Superiores de Educação e os Institutos Politécnicos vinham ministrando nesta área, verão o seu percurso profissional interrompido, assim como muitos dos seus licenciados, actualmente em funções, ficarão reduzidos à ameaça do desemprego.
A bem da escola pública, enquanto profissionais responsáveis, não nos resta outra alternativa senão a denúncia pública desta situação e um veemente apelo às entidades competentes no sentido da suspensão destas medidas.
Vale de Cambra, 14 de Fevereiro de 2012
Professores de EVT dos dois agrupamentos verticais de escolas de Vale de Cambra