«Não há democracia sem circunscrição de uma sociedade humana que se fornece de leis num espaço, fechado por uma fronteira, e que distingue os seus dos outros. É a própria condição da autonomia, debater e adoptar as suas leis, sem que uma instância exterior lhe imponha a sua vontade. E não há certamente democracia sem controlo das trocas, quer dos homens quer dos capitais, dos bens e dos serviços como das representações, que asseguram a primazia da sociedade sobre a economia, ao medir o lugar que é dado ao negociante e ao banqueiro, as duas ameaças permanentes à segurança individual e à unidade social, e sobretudo tornam possível a unidade interna pelas mutualizações escolhidas. Encarar assim a democracia, é compreender a que ponto nós vivemos, desde há uma geração ou menos, sob uma nova heteronomia, a dos mercados financeiros, em que ninguém pode dizer que são a expressão de escolhas livres e informadas de cada um dos actores da economia, a que ponto as nossas sociedades sacrificaram a sua autonomia à ilusão do progresso pelo crescimento infinito, sob a égide do novo regime de verdade caracterizado pelo preço de mercado, pelo contrato, pela concorrência e conformidade.»