«Quem põe um povo perante um dilema entre a ajuda financeira e a dignidade nacional, ignora as lições históricas fundamentais». Foi assim que Lucas Papademos, primeiro-ministro grego, respondeu à intenção alemã de retirar ao governo e ao parlamento gregos a soberania sobre o seu próprio Orçamento de Estado, entregando-a a um qualquer comissário da UE, durante o período de vigência da nova ajuda externa, neste momento em negociação.
A resposta grega é exemplar, assim como a pretensão do governo alemão.
A amnésia ou a ignorância da história; a ausência de respeito por outra nação, pela sua cultura, pela sua dignidade; e a boçalidade política dos actuais governantes alemães revelam como eles constituem, neste momento, a principal causa de instabilidade e de perigo para a paz na Europa. Os alemães estiveram na origem de duas guerras mundiais e voltam, agora, pela sua acção, a lançar as sementes do que poderá constituir o fim de mais de cinquenta anos de paz no Velho Continente. Os alemães têm, para com o mundo, uma dívida impagável: milhões de mortos, sofrimento e destruição. Todavia, a memória dos dirigentes alemães parece ser fraca e a capacidade de aprender reduzida.
Os gregos cometeram certamente muitos erros na sua governação, mas qual é o país que não os cometeu, agora ou antes? E que Cultura, que Nação, que Povo se pode julgar mandante de outra Cultura, de outra Nação, de outro Povo?
Lucas Papademos, na resposta à estupidez alemã, terá também lembrado que a fronteira entre a civilização e a barbárie é muito frágil e ténue. E, na verdade, se na vida há coisas precárias, essa fronteira é uma delas. O que é incompreensível e perigoso é andar tanto dito europeu entretido a tratar do seu umbigo sem ver para onde se dirige o caminho que pisa. A história já mostrou demasiadas vezes que, na direcção da barbárie, chega-se a um ponto em que já não há bilhetes de volta, só há bilhetes de ida.
Mas nós, os autodenominados civilizados, temos uma certa apetência para brincar com o fogo...
Mas nós, os autodenominados civilizados, temos uma certa apetência para brincar com o fogo...