Neste momento, o Partido Socialista tem parecenças com um barco à deriva, cuja tripulação está prestes a amotinar-se.
No fim-de-semana, surgiu o ressuscitado Manuel Alegre a reclamar uma nova política e novas caras para o PS; surgiu António Costa, número dois do partido, a reclamar contra alguns maus ministros do Governo; surgiu o líder concelhio dos socialistas do Porto a exigir que Elisa Ferreira optasse pela Câmara ou pelo Parlamento Europeu; surgiu a dupla candidata a dizer que não, que não opta nada, e acrescentou que tem o apoio do Sócrates, que, por sua vez, dois dias antes tinha proibido a duplas candidaturas, mas que já veio explicar que esse critério não se aplicava a todos; e surgiu o próprio secretário-geral do PS a passar um ralhete ao presidente da concelhia portuense. Se optarmos por recuar uns dias, tropeçamos nas cenas tristes de um ministro no Parlamento, nas cenas tristes do primeiro-ministro no diz que sabe e no diz que não sabe do negócio da PT, e em outras trapalhadas que se seguiram a trapalhadas outras.
É curioso verificar isto. É curioso verificar como os resultados de umas eleições viram de pernas para o ar a realidade, ou o que aparentava ser a realidade. Até há pouco tempo, Sócrates era incontestado e incontestável, era reconhecido como o líder invencível, era o timoneiro determinado que sabia qual era o rumo certo para o partido e para o país. Era lisonjeado, era bajulado, era adorado por todos os que usufruíam das benesses do poder. Mas hoje é claro que tudo não passava de aparência, de encenação, porque ao primeiro sinal de possibilidade de perda desse poder, a rebelião instala-se, o líder desorienta-se, o rumo esfuma-se. O que ontem era verdade, hoje, é mentira e amanhã não sabemos o que será. Ora isto torna claro como é espantosamente fácil contruir uma artificialidade mascarada de realidade, como se da realidade se tratasse.
E é curioso verificar como o futuro de um país pode estar dependente de acontecimentos tão aleatórios e tão inusitados e, desse modo, ficar sujeito a ser governado por um amontoado de impreparados: Sócrates viu cair-lhe o poder no colo sem ter feito nada para o merecer e sem ter qualquer preparação para o cargo. Beneficiando de um conjunto aleatório de circunstâncias - fuga de Durão Barroso e manifesta incompetência de Santana Lopes e de Paulo Portas - obteve uma maioria absoluta por via de uma conjuntural «coligação» negativa dos eleitores, que entre dois males, escolheram o que pensavam ser o menor.
Com o grande prémio no bolso, com uma oposição esfrangalhada e seguro pelo confortável apoio parlamentar, o impreparado Sócrates, munido de um pensamento primário e de uma ilimitada arrogância, começou a governar com a presunção, própria dos medíocres, de que era o salvador da pátria, de que era o finalmente regressado D. Sebastião. Armado dos verbos «mudar» e «reformar», que repetiu a despropósito de tudo, e auto-proclamando-se «justiceiro» da República, com a coragem característica de quem tem as costas devidamente resguardadas, começou a mudar tudo e a tudo reformar. Não interessava se as mudanças eram para melhor ou se eram para pior; cego e surdo, teimoso e prepotente o que o preocupava era poder dizer que estava a reformar o país como nenhum outro fizera. Com tiques e pensamentos de tiranete, pensou, como qualquer medíocre pensa, que o mundo estava todo errado e só ele estava no estreitíssimo caminho da verdade. Pensou, como qualquer medíocre pensa, que podia introduzir alterações na vida das pessoas com o mesmo à-vontade de quem altera os detergentes da casa. Pensou que podia brincar com a dignidade profissional, pensou que podia maltratar, pontapear quem lhe apetecesse, desde que montasse uma enorme rede de interesses, como contrapartida de garantia de longevidade política.
Todavia, um pormenor aborrecido acabou por perturbar o que parecia ser um imenso mar tranquilo de cumplicidades: a democracia, a malfadada democracia que, por vezes, tem a capacidade de dizer que o rei vai nu.
Sem princípios, que são alterados consoante o lado de que o vento sopra, e alarmados pela iminência da perda de milhares de empregos políticos, os actuais dirigentes socialistas mostram que o transatlântico em que julgavam navegar não passa, afinal, de um navio de casco esburacado comandado por um homem de cabeça perdida.
No fim-de-semana, surgiu o ressuscitado Manuel Alegre a reclamar uma nova política e novas caras para o PS; surgiu António Costa, número dois do partido, a reclamar contra alguns maus ministros do Governo; surgiu o líder concelhio dos socialistas do Porto a exigir que Elisa Ferreira optasse pela Câmara ou pelo Parlamento Europeu; surgiu a dupla candidata a dizer que não, que não opta nada, e acrescentou que tem o apoio do Sócrates, que, por sua vez, dois dias antes tinha proibido a duplas candidaturas, mas que já veio explicar que esse critério não se aplicava a todos; e surgiu o próprio secretário-geral do PS a passar um ralhete ao presidente da concelhia portuense. Se optarmos por recuar uns dias, tropeçamos nas cenas tristes de um ministro no Parlamento, nas cenas tristes do primeiro-ministro no diz que sabe e no diz que não sabe do negócio da PT, e em outras trapalhadas que se seguiram a trapalhadas outras.
É curioso verificar isto. É curioso verificar como os resultados de umas eleições viram de pernas para o ar a realidade, ou o que aparentava ser a realidade. Até há pouco tempo, Sócrates era incontestado e incontestável, era reconhecido como o líder invencível, era o timoneiro determinado que sabia qual era o rumo certo para o partido e para o país. Era lisonjeado, era bajulado, era adorado por todos os que usufruíam das benesses do poder. Mas hoje é claro que tudo não passava de aparência, de encenação, porque ao primeiro sinal de possibilidade de perda desse poder, a rebelião instala-se, o líder desorienta-se, o rumo esfuma-se. O que ontem era verdade, hoje, é mentira e amanhã não sabemos o que será. Ora isto torna claro como é espantosamente fácil contruir uma artificialidade mascarada de realidade, como se da realidade se tratasse.
E é curioso verificar como o futuro de um país pode estar dependente de acontecimentos tão aleatórios e tão inusitados e, desse modo, ficar sujeito a ser governado por um amontoado de impreparados: Sócrates viu cair-lhe o poder no colo sem ter feito nada para o merecer e sem ter qualquer preparação para o cargo. Beneficiando de um conjunto aleatório de circunstâncias - fuga de Durão Barroso e manifesta incompetência de Santana Lopes e de Paulo Portas - obteve uma maioria absoluta por via de uma conjuntural «coligação» negativa dos eleitores, que entre dois males, escolheram o que pensavam ser o menor.
Com o grande prémio no bolso, com uma oposição esfrangalhada e seguro pelo confortável apoio parlamentar, o impreparado Sócrates, munido de um pensamento primário e de uma ilimitada arrogância, começou a governar com a presunção, própria dos medíocres, de que era o salvador da pátria, de que era o finalmente regressado D. Sebastião. Armado dos verbos «mudar» e «reformar», que repetiu a despropósito de tudo, e auto-proclamando-se «justiceiro» da República, com a coragem característica de quem tem as costas devidamente resguardadas, começou a mudar tudo e a tudo reformar. Não interessava se as mudanças eram para melhor ou se eram para pior; cego e surdo, teimoso e prepotente o que o preocupava era poder dizer que estava a reformar o país como nenhum outro fizera. Com tiques e pensamentos de tiranete, pensou, como qualquer medíocre pensa, que o mundo estava todo errado e só ele estava no estreitíssimo caminho da verdade. Pensou, como qualquer medíocre pensa, que podia introduzir alterações na vida das pessoas com o mesmo à-vontade de quem altera os detergentes da casa. Pensou que podia brincar com a dignidade profissional, pensou que podia maltratar, pontapear quem lhe apetecesse, desde que montasse uma enorme rede de interesses, como contrapartida de garantia de longevidade política.
Todavia, um pormenor aborrecido acabou por perturbar o que parecia ser um imenso mar tranquilo de cumplicidades: a democracia, a malfadada democracia que, por vezes, tem a capacidade de dizer que o rei vai nu.
Sem princípios, que são alterados consoante o lado de que o vento sopra, e alarmados pela iminência da perda de milhares de empregos políticos, os actuais dirigentes socialistas mostram que o transatlântico em que julgavam navegar não passa, afinal, de um navio de casco esburacado comandado por um homem de cabeça perdida.