Saíram as primeiras conclusões do estudo que a Universidade Católica está a realizar sobre o programa Novas Oportunidades. Dessas conclusões, sei apenas o que saiu nos jornais, onde, entre outras coisas, pude ler o seguinte: «Sobre as críticas ao alegado "facilitismo" do programa, o coordenador explicou ao PÚBLICO que a novidade é "aproveitar a experiência pessoal de cada um". E acrescentou: "Há uma pluralidade de vias para chegar às mesmas coisas".»
Portanto, não há facilitismo nas Novas Oportunidades. Isto é, o tudo que para aí se diz é falso, o que os meus alunos, que já por lá passaram, me contam é falso, o que os nossos colegas contam é falso, o que se lê nos jornais é falso, o que se sabe de outras escolas é falso, enfim, tudo é falso. Mas ainda bem que houve alguém capaz de descobrir, a tempo, que é falso tudo o que se tem dito e escrito acerca das falsidades das Novas Oportunidades.
No fim de contas, tudo isto não passa, segundo os responsáveis, de uma justa e adequada valorização de vias que, apesar de diferentes, permitem chegar à mesma finalidade: se as minhas experiências de vida pessoal e profissional me deram competências, elas devem ser reconhecidas e certificadas. E assim quanto maior e melhor for a experiência mais rapidamente me passam o diploma do 12.º ano.
Vamos, então, fazer de conta que se sim senhor, que as coisas são assim e que todos os caminhos vão dar a Roma e que o céu é verde e a relva azul.
Dando tudo isto como verdadeiro, que não há facilitismo, concluímos, então, que formar mil alunos por dia, que é a média actual de formação das Novas Oportunidades, corresponde ao resultado de uma formação séria e de uma creditação e validação rigorosas das competências de cada um deles.
Todavia, há aqui um embrulho. Vejamos: por um lado, diz-se que em Portugal o nível da formação das pessoas é baixíssimo, o mais baixo da Europa; por outro lado, validam-se competências à velocidade de mil alunos por dia, mais ou menos 142 por cada hora de trabalho.
Ora se se validam competências e se se passam diplomas a esta velocidade vertiginosa, e se ainda se espera qualificar um milhão de portugueses até ao próximo ano, isto só pode querer dizer que, afinal, as pessoas já possuíam essas competências, só não estavam formalmente reconhecidas nem certificadas. Daí a rapidez da certificação, sem facilitismos. Só assim se compreende. Mas isto tem uma consequência óbvia: quer dizer que Portugal, realmente, não tinha, nem tem o tal problema gravíssimo de falta de formação. Os portugueses tinham/têm as tais competências, as tais qualificações, só não tinham o diploma que as validasse formalmente.