sábado, 25 de julho de 2009

Ainda está para nascer...

«Ainda está para nascer um primeiro-ministro que tenha feito melhor no défice». A frase proferida foi esta: «...que tenha feito melhor...»; não foi: «...que faça melhor...».
Se fosse um aluno meu que construísse uma frase assim, eu ficaria triste, mas teria a obrigação de lhe explicar por que razão ele nunca mais poderia repetir tamanha asneira.
1. Dir-lhe-ia o seguinte: os que vão nascer só poderão fazer melhor no futuro, não no passado, portanto, nunca se pode dizer, mas nunca mesmo, que ainda está para nascer alguém que tenha feito melhor do que eu isto ou aquilo.
2. Pode-se dizer: até hoje, ninguém fez melhor do que eu isto ou aquilo. Mesmo que não seja verdade, como não entra em conflito com a gramática, pode ser dito.
3. Também se pode dizer: ainda está para nascer quem venha a fazer melhor do que eu isto ou aquilo (gramaticalmente, pode ser dito, ainda que seja de uma presunção extrema dizê-lo — no caso, contando que poucos são os que chegam a primeiro-ministro antes dos quarenta anos de idade, isto significaria que, mesmo nascendo hoje, Portugal só a partir de 2050 é que teria hipótese de ter um primeiro-ministro de tão elevado potencial).
4. Agora, dizer que ainda está para nascer alguém que já tenha feito uma coisa que eu fiz... isso é que jamais!
Se me contassem que tinha sido um aluno meu a dizê-lo, eu ficaria triste, como expliquei; se me contassem que tinha sido um primeiro-ministro a dizê-lo, eu ficaria horrorizado; mas se me contassem que tinha sido o actual primeiro-ministro de Portugal a dizê-lo, eu já não ficaria horrorizado, nem sequer surpreendido. Dele já espero tudo. De alguém que, insistentemente, diz precaridade, em lugar de precariedade, já nada espanta, já nada conturba.