quarta-feira, 1 de julho de 2009

Às quartas

Ciclo

Tudo estava enterrado.
Havia em toda a parte
O silêncio que se segue
Ao desabar das casas,
Depois do céu em chama
Lançar na noite fria

O espanto, a dor, a morte.
Já se extinguira mesmo
O sussurro diluído
Das cinzas moribundas
E o gemido prolongado
Do cão negro, espavorido,
Correndo pelas ruínas.

E como pôde nascer
Na aridez e no vácuo
Um pensamento de luz,
Nítido, preciso,
Que cortou os ares queimados
E deixou nas nuvens sujas
Um sulco fundo de Vida?

Maria Amélia Neto