Uma história árabe e judia (contam-na nas duas tradições).
A rainha de Sabá, quando recebeu a visita do grande Salomão, com quem rivalizava em saber, propôs-lhe uma espécie de enigma. Levou-o a um compartimento do seu palácio onde uns artesãos prodigiosos tinham enchido tudo de flores artificiais. Dir-se-ia um prado miraculoso, onde muitas e olorosas flores se balançavam docemente sob o efeito de uma brisa desconhecida.
— Eis o meu enigma — disse a rainha. — Uma destas flores, uma só, é verdadeira. Podes indicar-ma?
Salomão olhou atentamente em seu redor. Apelou aos tesouros da sua sensibilidade, a todas as forças da sua concentração. Não soube designar a flor verdadeira. Então, como suasse abundantemente, aproveitou para dizer à rainha de Sabá:
— Reina aqui um calor pouco habitual. Podes pedir a um dos teus criados que abra uma janela?
— Aqui está a verdadeira flor — disse o rei um pouco mais tarde.
Não podia enganar-se. Uma abelha, entrada pela janela, acabava de pousar na única flor verdadeira.
Se é sempre difícil ser Salomão, dizem os comentadores desta história, é ainda mais difícil ser abelha. Mas o mais difícil em todos os tempos é ser a flor.
In Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema.