Fazer política não pode ser sinónimo de desprezar ou sinónimo de maltratar ou sinónimo de ignorar as pessoas. Se assim não for, o exercício da política transforma-se num expoente de perversidade e de iniquidade.
Fazer política sob o comando de uma folha de Excel é fácil, contudo, é profundamente estúpido e perigoso: salvam-se os números, mas destroem-se as pessoas.
Desgraçadamente, para grande parte dos portugueses, é sob este paradigma político que vivemos. Que o digam as centenas de milhares de desempregados, os milhares de jovens que não conseguem o primeiro emprego, as centenas de milhares de reformados e pensionistas, os milhares de profissionais das mais diferentes áreas de actividade que vêem o valor do seu trabalho equiparado a uma esmola, os milhares de funcionários públicos que têm as carreiras congeladas há anos e que têm os seus vencimentos diminuídos em dois dígitos percentuais, e que o digam, neste momento, as dezenas de milhares de professores que vão ficar no desemprego ou que vão ficar sem horário para leccionar, daqui a pouco mais de um mês. Em nome dos números, abatem-se as pessoas.
No caso específico da Educação, o balanço de um ano de governo é devastador. Movido por critérios de mercearia e obliterado pelas crenças naïf em que se suporta, Nuno Crato está a destruir o principal capital humano que sustenta o desenvolvimento de qualquer país: os professores. Desprezando os professores como está a desprezar, maltratando-os como os está a maltratar, ignorando-os como os está a ignorar, Crato e o seu governo estão a minar o futuro da nossa educação, porque tudo isto tem consequências irreversíveis na qualidade do ensino e das aprendizagens.
Os professores e as famílias dos professores estão, neste momento, dominados por três sentimentos: medo, indignação e revolta. Estes sentimentos são legítimos e são alimentados pela hipocrisia e pela desonestidade política do ministro e do governo. É hipocrisia e desonestidade justificar o despedimento de milhares de professores com o argumento de que é em função das necessidades das escolas que os professores têm ou não têm horário para leccionar. Esta (pseudo) evidência revela as intenções de quem a enuncia: se se reduz o currículo das disciplinas, se se reduz a carga horária, se se aumenta o número de alunos por turma, se não se autoriza a abertura de turmas ou de cursos quando há alunos inscritos, evidentemente que as necessidades das escolas se reduzem. A questão é saber com que fundamento educativo se fazem as reduções, se aumenta o número de alunos por turma e se proíbe a abertura de novas turmas e cursos. Um país que tem um grau de iliteracia assustador, que tem inaceitáveis níveis de abandono e de insucesso escolar e que obtém resultados escolares globalmente baixos, como pode, com responsabilidade e seriedade, aumentar o número de alunos por turma? Como pode diminuir a carga horária a várias disciplinas? Como pode negar o direito à educação a alunos jovens e adultos que querem estudar? Estamos num país que tem necessidade, como de pão para boca, de mais e melhor escola, não do contrário.
Não é, pois, possível aceitar por mais tempo a irresponsabilidade e a incompetência técnica e política de Nuno Crato. O que se está a passar é demasiado grave.