quarta-feira, 30 de março de 2011

Às quartas

A CRIANÇA E A LUA

A lua e a criança jogam
um jogo que ninguém vê;
sem olhar vêem-se, falam
uma língua de pura mudez.
O que dizem, ou ocultam,
a contar um, dois, três,
ou três, dois, um
para voltar a contar?
Quem ficou dentro do espelho,
lua, para tudo ver?
A criança está feliz e só:
a lua roça os seus pés
como a neve na madrugada,

como o azul do amanhecer;
nas duas faces do mundo
— a que ouve, e a que vê —
cindiu-se o silêncio,
a luz cintila no outro lado
das mãos, que seguem a procurar quem sabe o quê
no instante de ninguém
que passa onde jamais foi.

A criança existe e joga
um jogo que ninguém vê.

Mariano Brull
(Trad. Jorge Henrique Bastos)