MONÓLOGO DE ESTHER
Quando te perderes dentro
do deserto da tarde
e te der sede o azul
do mar tão distante,
sentirás que és olhado,
pelo meu olhar.
Eterno príncipe, Jacob,
terás sempre companhia
contigo peregrinando
através séculos, palavras.
Suportarás a morte
como o ramo ao pássaro.
Ai, inimigo caminho
das horas, das águas,
galope de altivos archeiros
contrários à estátua
de sal do que pensou
vir a ser mármore!
Se tu cais, os teus olhos
gelarão esperanças.
Povo triste, à lembrança
das cidades abarsadas.
Nenhum repouso te acolhe
de sombra doce, ou casa.
Apenas sonhos, no fundo.
Salvador Espriu
(Trad.: João Cabral de Melo Neto)