domingo, 20 de março de 2011

O cronista das boas notícias

Como os dias só têm 24 horas e como essas horas não permitem que façamos tudo o que desejaríamos fazer, temos de proceder a escolhas e estabelecer prioridades.
Nessas opções que temos de fazer incluem-se as opções de leitura. Como não podemos (e, em alguns casos, não devemos) ler todos os livros, todas as revistas, todos os jornais e todas as crónicas que se publicam, temos de fazer uma selecção mais ou menos criteriosa do que a priori pensamos poder valer a pena ler. É por esta razão que, há já vários anos, deixei de ler um mediático cronista português e persistente candidato a escritor de literatura, de nome Sousa Tavares.
Todavia, começo a pensar que fiz mal e que tenho de voltar a lê-lo. Porquê? Porque, como já expliquei em texto anterior, intitulado «Um homem de coragem», este cronista está a tornar-se num verdadeiro mensageiro de boas notícias. 
Há uns meses, deu-nos a conhecer que, e cito rigorosamente: «[Com o segundo Governo de Sócrates], os professores passaram a ganhar todos mais automaticamente e vão ser todos classificados com Muito Bom e Óptimo.» Esta notícia foi anunciada ao mundo em Setembro do ano passado. Nessa altura, já não lia o cronista, mas amigos meus fizeram o favor de me informar da boa nova. Fiquei feliz — não é todos dias que se recebe a notícia de que se vai passar a «ganhar mais automaticamente» e de que se vai ser «classificado de Muito Bom e Óptimo». É verdade que, até hoje, e já lá vai meio ano, ainda não vi nada do que o cronista anunciou, nem o aumento de vencimento nem a dita classificação, mas, com a fama que o cronista tem, não me passaria pela cabeça que ele fosse capaz de fazer tal afirmação sem estar muito seguro do que estava a dizer. Por isso, continuo à espera do aumentozinho e da classificaçãozinha.
Hoje, fiquei a saber, pelos mesmos amigos, que o mesmo cronista, no Expresso deste sábado (na página que eu salto sempre), anunciou ao país que os professores recebiam 25 euros por cada exame corrigido. Desta vez, não fiquei apenas feliz, rejubilei. Pus-me a fazer contas e, em números redondos, devo ter a receber, retroactivamente, uns cinco mil euros. Não é uma fortuna, mas, em tempo de crise, é dinheiro. Ora, juntando a isto o tal aumento que ainda não recebi, mas vou receber, mais a classificação, que ainda não obtive, mas vou obter, só posso estar radiante e, acima de tudo, particularmente agradecido ao cronista.
Tenho de dar a mão à palmatória e reconhecer que se há cronista que valha a pena ler é este.