sexta-feira, 11 de março de 2011

Resposta a Sócrates, dos professores de EVT


COMUNICADO DA APEVT
DEFESA DA HONRA DOS PROFESSORES DE EVT
Sobre as declarações do Senhor Primeiro Ministro relativas à disciplina de Educação Visual e Tecnológica
(na Assembleia da República, 10/03/2011)

Face ao que foi afirmado pelo Senhor Primeiro Ministro, na tarde do dia10/03/2011, relativamente à importância curricular e socioeducativa da área de Educação Visual e Tecnológica e do seu modelo de docência - aquando da discussão da Moção de Censura ao Governo - e tendo em conta as graves consequências de desinformação da sociedade de que as mesmas comportam, particularmente chocante as referências à disciplina de EVT e seus professores considerando que o currículo nacional “…comporta disciplinas supérfluas e desnecessárias com consequências negativas…” a APEVT informa todos os pais e a comunidade social portuguesa, do seguinte:

A disciplina de EVT nasceu num contexto específico, faz 20 anos, fruto da fusão das disciplinas de Educação Visual e Trabalhos Manuais, assumindo-se como uma nova área curricular, integrando as áreas da educação artística e educação tecnológica, solução singular no contexto internacional.

Estas áreas também alicerçam as competências essenciais e o Currículo Nacional do Ensino Básico, ME (2001) e as Metas de Aprendizagem, ME (2010) que sustentam a abrangência destas áreas e componentes curriculares e da necessidade do par pedagógico.

Estes os documentos apontam as razões pelas quais é necessário que se mantenha a docência da disciplina pelo par pedagógico. Aliás, estas saem reforçadas com a publicação, pelo Ministério da Educação, no início deste ano lectivo (2010/11) das Metas de Aprendizagem pois a determinada altura encontra-se o seguinte excerto:
“…tenta-se cruzar as competências definidas para as duas áreas, Educação Visual e Educação Tecnológica, tendo em vista uma efectiva integração e aplicação em contexto escolar, uma vez que a disciplina é leccionada por dois professores em simultâneo”
Pergunta-se: que sentido tem o próprio Governo publicar um documento com determinadas orientações e, em poucos meses, fazer tábua rasa do mesmo?

- Segundo palavras da Senhora Ministra da Educação é possível realizar as aprendizagens contempladas no programa e orientações curriculares da EVT APENAS COM 1 PROFESSOR! Nada mais errado. E perguntamos: por que razão a EVT, que sempre foi leccionada por dois docentes dadas as suas metas educativas, o seu carácter prático/experimental e agora, querer-se atribuir a docência da disciplina a apenas um docente? Que questões pedagógicas estão subjacentes a esta medida? Começa a ser claro que são meramente financeiras …

- A afirmação do Senhor Primeiro Ministro (também já repetida pela Senhora Ministra da Educação) que noutros países europeus (e do mundo) não existem dois professores mas apenas um a leccionar EVT é FALSA.

Esclarecemos que o modelo curricular de EVT apenas existe em Portugal e em mais nenhum país da Europa ou do mundo. É fruto da integração das áreas da educação artística e da educação tecnológica e que, noutros países, se mantêm nos currículos estas áreas disciplinares autonomamente. Cada uma dessas duas áreas em separado no currículo, ora na componente artística ora na componente tecnológica, com currículo próprio e CADA UMA DELAS COMUM PROFESSOR. Naturalmente se deduz que existem DOIS PROFESSORES. Um por cada área.

Assim, é ERRADA a afirmação da existência de apenas um professor: EXISTEM 2 PROFESSORES – um na área da educação artística e outra na área da educação tecnológica. Assim se passa na Espanha (áreas da educação visual e plástica e da tecnologia), França (áreas da educação artística e da tecnologia), Itália ou na Inglaterra com as áreas de Art and Design e Design and Technology, entre muitas outras que podíamos aqui destacar.

Todas estas áreas disciplinares estão presentes no currículo, cada uma com o seu professor, e com uma dotação horária específica. Ora, em Portugal, integram-se as duas áreas, daí a existência dos dois professores, do seu par pedagógico.

- Ainda relativamente à questão da melhoria da qualidade do ensino da EVT passando o modelo de leccionação de par pedagógico para apenas um professor, a mesma é totalmente errada e traduz-se num perfeito erro e engano que se tenta transmitir para a sociedade. Pelo contrário, estamos convictos que o carácter prático e experimental seria seriamente posto em causa e consequentemente o potencial educativo da EVT

- Finalmente, salientamos ainda o facto da leccionação da disciplina de EVT em modelo de par pedagógico nada tem a ver com a formação inicial dos docentes desta área mas sim com a sua concepção metodológica e das necessidades pedagógicas. São mais de 20 anos (desde 1991) de cursos ministrados nas Escolas Superiores de Educação em que a prática pedagógica supervisionada foi ministrada SEMPRE por par pedagógico. Foi sempre esta a orientação.

A APEVT lamenta o profundo e manifesto desconhecimento por parte do Senhor Primeiro Ministro (bem como da Senhora Ministra da Educação)daquilo que é a EVT no currículo, da sua importância na sociedade e da vida das escolas e da impossível leccionação da disciplina de EVT apenas por um professor.

A APEVT repudia veementemente as afirmações do Senhor Primeiro Ministro sobre o lugar e o papel da disciplina de EVT no currículo do ensino básico e o seu contributo para uma educação integral dos alunos, quando divide o currículo em disciplinas de primeira (fundamentais) e de segunda (supérfluas…). O Senhor Primeiro Ministro relembra os pressupostos educativos do antigo estado novo “… ler, escrever e contar…”, lamentável!...
A APEVT recusa também que a governação do país se baseie na mentira e na desinformação, pelo que trazemos esta informação a todos os portugueses.
APEVT
10 de Março de 2011
O agradecimento ao colega Paulo Ambrósio pelo envio deste comunicado.