quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tópicos para reflexão 1

1. Ontem, ficou concluído o nosso Inquérito 2. Quando a pergunta - «Se a ministra da Educação não alterar a sua posição em relação ao modelo de avaliação, que devem os sindicatos fazer?» - foi colocada no blogue, estávamos no fim da primeira semana de aulas do 3º período. Ainda não havia nem se adivinhava nenhum Memorando de Entendimento, mas os professores começavam a ouvir, já com alguma angústia e também já com alguma desconfiança, o ruidoso quase silêncio dos sindicatos. O contexto era este, quando a pergunta foi feita.
Escrevi, a propósito dos resultados do Inquérito 1, que estas nossas «sondagens» não respeitam, obviamente, critérios científicos, contudo, o facto de os resultados serem sempre tão expressivos parece poder autorizar alguma reflexão sobre os mesmos - a não ser que se pense que aqueles que visitam este blogue são uma espécie em vias de extinção e que, portanto, não é possível estabelecer qualquer afinidade entre o seu pensamento e o pensamento dos outros professores.
Como eu não penso assim, e como verifico que quase 80% dos 205 votos apurados desejava que fosse realizada uma nova manifestação nacional durante o mês de Maio, permito-me pensar que, a nível nacional, haveria, no mínimo, uma maioria significativa de professores que também considerava ser essa a forma mais correcta e eficaz de prosseguir o protesto e a oposição ao modelo avaliativo, criado pela ministra (até porque não tenho dúvidas de que os 18% de professores que preferiram a alternativa «realizar vários dias de greve» não faltariam à manifestação se ela se realizasse – adicionadas as duas parcelas, temos quase o pleno). Muitos fazem notar que um desfile nacional tem um enorme impacto mediático e não colide com os legítimos interesses dos alunos nem dos pais.
Mas não era só o inquérito que nos dizia isto. Todas as conversas e trocas de impressões que diariamente tínhamos, quer com colegas das nossas escolas quer com colegas das mais diversas partes do país, acabavam por se encaminhar maioritariamente para esse cenário. Na blogosfera também me parecia ser essa a vontade prevalecente. Os mails e os sms trocados convergiam todos nesse sentido: é preciso agir, anunciando, desde logo, novo desfile nacional. Apenas os sindicatos não falavam disso.


2. Depois do histórico desfile de 8 de Março, seguiu-se a interrupção das actividades lectivas e aquando do regresso às escolas as perguntas que mais se ouviam nas salas dos professores eram: «e agora?» e «que estão os sindicatos a fazer, decorridas mais de três semanas desde a manifestação?». Foi, então, debilmente anunciado um programa de manifestações locais distanciadas no tempo e no espaço e um Dia D marcado para 15 de Abril, isto é, um mês e uma semana depois do desfile. Entretanto, este distendido e ineficiente programa de protestos, permitiu que toda a equipa do Ministério da Educação começasse, logo a 10 de Março, uma intervenção contínua e incisiva junto das escolas, em particular, junto dos presidentes dos conselhos executivos e dos conselhos pedagógicos, pressionando, ameaçando, chantageando, aliciando.
Enquanto essas reuniões se sucediam por todas as escolas do país, em que ministra e secretários de Estado em duas semanas deram duas voltas a Portugal e davam tudo por tudo pela sua sobrevivência política e pela sobrevivência do seu incompetente modelo de avaliação, os sindicatos foram incapazes de reagir, pareciam definhar, arrastavam-se em minguadas declarações públicas e em reuniões com o secretário de Estado, e mais não faziam do que anunciar umas luzes ao fundo do túnel, que logo a seguir se apagavam.
E, neste acende e apaga, os professores iam ouvindo notícias contraditórias: algumas escolas estavam a relançar o processo de avaliação, por coacção dos presidentes dos conselhos executivos; outras tinham suspendido esse processo; outras ainda não sabiam o que deveriam fazer. E continuavam a perguntar: «onde está a força dos 100 mil?», «que se passa com a continuidade do gigantesco protesto que fizemos?».
Sem norte, sem firmeza, sem saber que fazer à tal força dos 100 mil, os sindicatos enredaram-se em reuniões, no dá cá e toma lá – neste caso, foi mais: toma lá, toma lá, dá cá, toma lá, toma lá – e, assim, ao décimo segundo dia do mês de Abril, nasceu o Memorando de Entendimento cujo conteúdo faz tábua rasa do fundamental, do mais importante de todos os protestos dos professores: o carácter absolutamente inaceitável, porque incompetente, injusto e inoperacional, do modelo de avaliação imposto pelo governo.
Governo e sindicatos passaram o sábado e o domingo a sorrir para as televisões e um coro de protestos de muitos professores começou a fazer-se ouvir.


3. Foi um dado objectivo o abalo que os 100 mil professores provocaram no governo, que só não levou à queda da ministra porque quinze dias antes tinha havido uma remodelação governamental.
Foi um dado objectivo, revelado por dezenas de declarações, quer de comentadores do partido do governo quer de deputados do PS, para não referir todos os demais comentadores e políticos da oposição, a situação fragilizada em que a equipa ministerial se encontrava, incapaz de resistir a uma nova acção de vigoroso protesto público.
Foi um dado objectivo a indignação que os professores sentiam relativamente à politica educativa e à forma como eram tratados pela ministra e pelos seus secretários de Estado. Foi um dado objectivo a particular rejeição do novo sistema de avaliação por parte da esmagadora maioria dos docentes.
Foi um dado objectivo que, apesar de nada de substantivo ter sido alcançado, os sindicatos não se moveram para que a contestação fosse prosseguida. Pelo contrário, tudo fizeram para que fosse alcançado um acordo, por mais minimalista que fosse, isto é, sem ter em conta as mais importantes e as mais do que justas pretensões dos professores.

4. O quarto tópico fica para outro dia, que a minha vida não é isto e o dever chama-me.