sábado, 19 de abril de 2008

Tópicos para reflexão 2 (ou o triângulo: ministro do Trabalho, Carvalho da Silva, Acordo ME/Sindicatos)

Hoje, o Expresso, na p. 18, titula o seguinte: «Governo pede ajuda a líder da CGTP.» E subtitula: «O conflito na Educação foi desbloqueado ao mais alto nível.»
Não é necessário ler todo o artigo, basta os seguintes excertos:
«O ministro do Trabalho foi o mediador do conflito da Educação, tendo chamado o líder da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, para desbloquear a guerra aberta entre os sindicatos e Lurdes Rodrigues.
[...]
No dia 29 de Março, na altura do Governo Presente em Viseu, o ministro do Trabalho telefonou a Manuel Carvalho da Silva pedindo-lhe um encontro, que acontece no gabinete do ministro. Tinham passado 11 dias sobre o encontro da delegação da CGTP com o primeiro-ministro, em São Bento, onde a guerra na Educação fora aflorada. Os cem mil manifestantes que se juntaram no Terreiro do Paço foram a almofada necessária para que Carvalho da Silva pedisse «uma saída para este conflito», sem a qual, terá deixado claro, não haveria possibilidade de acalmar todos os outros sectores. Sócrates, por seu lado, não deixou passar a oportunidade de ter pela frente o líder sindical para solicitar a sua intervenção na resolução de um problema que, a agudizar-se, não traria senão prejuízos para ambas as partes. Carvalho da Silva foi sensível à argumentação do primeiro-ministro, talvez ‘sugestionado’ pelo facto de estar em curso a revisão do Código Laboral – de resto uma das prioridades na agenda que a CGTP deixou em São Bento – e de os sindicatos, participando na solução, ganharem a médio prazo créditos sobre o Governo. Os recados estavam dados e o Governo passou à acção».

Independentemente de não podermos saber, com rigor, se todos os pormenores da notícia são factuais, o essencial está lá e explica muito do que aconteceu depois do dia 8 de Março.
Esta notícia serve também para reconfirmar a ideia de que o poder e o sindicalismo não são duas faces da moeda, não são faces oponíveis da moeda, como, à partida, seria de crer; como, historicamente, as suas origens fariam prever; como, mediaticamente, alguns ainda nos querem fazer ver.
Ambos, poder e sindicalismo, pertencem, hoje, à mesma face da moeda. Apesar de muitas vezes partirem de pontos divergentes, senão mesmo opostos, certo é que, no final, acabam a praticar os mesmos esquemas, a frequentar os mesmos corredores, a enlaçarem-se nos mesmos enredos, a organizar o mesmo tipo de encenações. A substância do que conjunturalmente possa estar em jogo é relegado para segundo plano e prevalecem os jogos de poder e de influências. As estratégias político-partidárias sobrepõem-se à pertinência e à justeza das causas laborais.
Foi o que, mais uma vez, aconteceu com os protestos dos professores contra o megalómano e incompetente sistema de avaliação de desempenho. A inquestionável justeza da rejeição desse sistema não impediu que tivessem sido outros interesses e outros factores a determinar o modo como o problema acabaria por ser resolvido.
Que tem o ministro do Trabalho que ver com o conflito da Educação? E, principalmente, que é isso que nos interessa, que tem Carvalho da Silva que interferir na luta dos professores (foi para isto que a Fenprof aderiu à CGTP)? Quem delegou, por parte dos professores, poderes a Carvalho da Silva para desbloquear fosse o que fosse? Neste processo, que representatividade foi conferida a Carvalho da Silva, e quem a conferiu? E como é que se pode/deve entender que um governo peça ajuda a um sindicalista? E como é que se pode/deve entender que um sindicalista ajude um governo?

Definitivamente, não gosto destas trapalhadas.