No já referido ambiente de objectiva promiscuidade entre jornalismo e política, aquela espécie de entrevista foi tocando nos aspectos sobre os quais à ministra mais convinha perorar, até porque não tinha pela frente qualquer esboço de contraditório.
Sem constrangimentos, a ministra sentiu que tudo o que dissesse era aceite e a mensagem para a opinião pública seria transmitida. Por isso, foi dito tudo e de tudo, como temos vindo a observar.
Continuamos o périplo. As afirmações da ministra seguem a azul.
A certa altura, o jornalista Ferreira pretende que a ministra confirme se o seu sistema de avaliação pode ser considerado um novo paradigma. A ministra confirma:
«É um novo paradigma seguramente. Repare. A divisão da carreira em duas categorias é uma situação que é muita estranha para os professores. Porque durante trinta anos as associações sindicais construíram um grupo homogéneo, acabaram com todas as diferenças».
Portanto, segundo a ministra, durante trinta anos, os sindicatos detiveram o poder político, de tal modo que foram eles que «construíram um grupo homogéneo» e que «acabaram com as diferenças» na carreira docente. Ficámos foi sem saber como obtiveram eles esse poder: se porque os ministros da Educação, nos últimos trinta anos, eram todos sindicalistas ou se porque, não o sendo, estavam, por alguma razão oculta, mas que conviria esclarecer, reféns dos sindicatos. Assim, de repente, recordo-me de alguns nomes de ministros que tiveram a pasta da Educação nos últimos trinta anos: Mário Sottomayor Cardia, Vítor Crespo, João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Manuela Ferreira Leite, Marçal Grilo, Guilherme de Oliveira Martins, David Justino, isto é, tudo pessoal sindicalista ou, então, gente manietada pelo poder sindical, apesar de parte significativa destes ministros ter pertencido a governos de maioria absoluta.
A análise histórica da ministra impressiona pelo rigor, e a leitura política pela perspicácia. É lamentável que uma ministra se limite a ser o eco do que alguns comentaristas, por exemplo, Miguel Sousa Tavares ou José Manuel Fernandes, que sabem tanto de educação como eu de nanofísica, começaram a propalar há já algum tempo. Um membro de governo não deveria ter pensamento próprio? Deveria, mas, neste caso, não tem.
É por isso que, uma meia dúzia de perguntas depois, a ministra desdiz o que tinha dito com o mesmo à-vontade com que, provavelmente, ia saboreando as bolachas. À pergunta, inteligente como todas as outras, do jornalista Ferreira: «Não foram os sindicatos que determinaram durante anos toda a legislação produzida neste Ministério?»
A ministra responde como se cinco minutos antes não tivesse afirmado exactamente o inverso: «Ouço dizer isso muitas vezes mas eu na realidade não sei, não conheço o suficiente para poder dizer que foi ou não assim.»
Não sabe, não conhece, nada pode dizer; meia dúzia de perguntas atrás, sabia, conhecia, dizia e disse que durante trinta anos tinham sido os sindicatos que tinham acabado com as diferenças e tinham construído uma carreira homogénea.
Em que momento está a ministra a falar verdade? Não sabemos, mas também já pouco interessa.
O que interessa é a sucessiva reconfirmação de um retrato cujos contornos prescindo de qualificar.
Sem constrangimentos, a ministra sentiu que tudo o que dissesse era aceite e a mensagem para a opinião pública seria transmitida. Por isso, foi dito tudo e de tudo, como temos vindo a observar.
Continuamos o périplo. As afirmações da ministra seguem a azul.
A certa altura, o jornalista Ferreira pretende que a ministra confirme se o seu sistema de avaliação pode ser considerado um novo paradigma. A ministra confirma:
«É um novo paradigma seguramente. Repare. A divisão da carreira em duas categorias é uma situação que é muita estranha para os professores. Porque durante trinta anos as associações sindicais construíram um grupo homogéneo, acabaram com todas as diferenças».
Portanto, segundo a ministra, durante trinta anos, os sindicatos detiveram o poder político, de tal modo que foram eles que «construíram um grupo homogéneo» e que «acabaram com as diferenças» na carreira docente. Ficámos foi sem saber como obtiveram eles esse poder: se porque os ministros da Educação, nos últimos trinta anos, eram todos sindicalistas ou se porque, não o sendo, estavam, por alguma razão oculta, mas que conviria esclarecer, reféns dos sindicatos. Assim, de repente, recordo-me de alguns nomes de ministros que tiveram a pasta da Educação nos últimos trinta anos: Mário Sottomayor Cardia, Vítor Crespo, João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Manuela Ferreira Leite, Marçal Grilo, Guilherme de Oliveira Martins, David Justino, isto é, tudo pessoal sindicalista ou, então, gente manietada pelo poder sindical, apesar de parte significativa destes ministros ter pertencido a governos de maioria absoluta.
A análise histórica da ministra impressiona pelo rigor, e a leitura política pela perspicácia. É lamentável que uma ministra se limite a ser o eco do que alguns comentaristas, por exemplo, Miguel Sousa Tavares ou José Manuel Fernandes, que sabem tanto de educação como eu de nanofísica, começaram a propalar há já algum tempo. Um membro de governo não deveria ter pensamento próprio? Deveria, mas, neste caso, não tem.
É por isso que, uma meia dúzia de perguntas depois, a ministra desdiz o que tinha dito com o mesmo à-vontade com que, provavelmente, ia saboreando as bolachas. À pergunta, inteligente como todas as outras, do jornalista Ferreira: «Não foram os sindicatos que determinaram durante anos toda a legislação produzida neste Ministério?»
A ministra responde como se cinco minutos antes não tivesse afirmado exactamente o inverso: «Ouço dizer isso muitas vezes mas eu na realidade não sei, não conheço o suficiente para poder dizer que foi ou não assim.»
Não sabe, não conhece, nada pode dizer; meia dúzia de perguntas atrás, sabia, conhecia, dizia e disse que durante trinta anos tinham sido os sindicatos que tinham acabado com as diferenças e tinham construído uma carreira homogénea.
Em que momento está a ministra a falar verdade? Não sabemos, mas também já pouco interessa.
O que interessa é a sucessiva reconfirmação de um retrato cujos contornos prescindo de qualificar.