Agora que as coisas chegaram a este ponto, é preciso falar claro.
1) A luta, com a Manifestação dos Cem Mil, foi dos professores, nunca dos sindicatos.
2) Os sindicatos nunca estiveram interessados no levantamento dos professores, mas, pelo contrário, na jogada das negociatas de bastidores, com reuniões mais ou menos secretas, e com o acordo dos partidos que os sustentam (ou que deles se sustentam).
3) Já em 1989, depois de manifestações e de concentrações, a mais importante no Campo Pequeno, os sindicatos, na altura dirigidos pela Manuela Teixeira e pelo Teodoro, quando se preparava uma greve às avaliações e aos exames, chegaram a acordo com o governo de então, entregando os professores numa travessa, isto é, traindo-os. Também nessa altura, “tivemos uma grande vitória”.
4) Desde o 8 de Março, dia da Manifestação, e já lá vai mais de um mês, que os sindicatos nada fizeram, limitando-se à negociatas e a umas promessas de concentrações e reuniões nas escolas, que, aliás, nem oficialmente convocadas foram, nem publicitadas, nem organizadas (Alguém sabe a que horas são? Alguém sabe qual a ordem de trabalhos? Há algum aviso colocado nas escolas?)
5) Claro que toda esta estratégia está montada para que os professores se sintam cada vez mais duvidosos acerca dos objectivos da sua luta, porque não sabendo que planos há não sabem o que fazer. Naturalmente que os sindicalistas vão vociferando discursos de revolta, jurando defender os professores até à sua última gota de sangue. Mas, quem é que acreditaria neles se dissessem o contrário? Ou nada dissessem?
É assim que se vai criando a encenação.
6) Depois de muitas horas de debate (gargalhada minha), sindicatos e m. e. chegaram a um consenso (para uns), a um acordo (para outros), a um “memorando de entendimento” (o que é isso), o que é a maneira de designar aquilo que estava acordado desde o início.
7) E, afinal, qual o conteúdo do tal acordo? Primeiro, os contratados vão ter que se submeter à avaliação do sr. Sócrates (só que em versão mais reduzida). Mas era isso mesmo o que a ministra queria e dizia (vitória?!). Depois, os sindicatos vão controlar o processo. Mas quem é que lhes pediu para controlarem o processo? Mas quem é que lhes pediu que se metessem na luta dos professores? Finalmente, em 2009, os sindicatos irão fazer, juntamente com o ministério, uma avaliação à aplicação (de quê?) do processo de avaliação que mais de cem mil professores recusaram na Manifestação do dia 8 de Março. Isto é: os sindicatos querem aquilo que os professores recusaram.
8) É isto novo? Não. É pedagógico? É. E é porque nos diz do papel dos sindicatos no passado, no presente e (principalmente) no futuro.
De facto, são organizações que estão no outro lado (se não, veja-se a quantidade de ex-sindicalistas que estão em cargos de poder). Deles não temos mais a esperar. E quando estes não servem, deverão os professores, em especial os mais novos, preparar-se para as novas lutas que se avizinham, criando as suas novas organizações de defesa de classe, isto é, organizações credíveis e honestas.
9) Mas há uma questão que agora se coloca: que fazer agora? Penso que o mais correcto é, nos encontros que se aproximam, repudiar as moções sindicais que nos irão propor a aprovação da estratégia do “memorando se entendimento” entre sindicatos e governo, isto é, a estratégia da nossa derrota. E devemos, ainda, aprovar moções onde se exija o que sempre exigimos: o fim deste modelo de avaliação.
E voltar aos sms, aos mailes, às manifestações. À luta.