Outrora o conceito de «ajuda» significava prestar auxílio. Prestar auxílio desinteressado, isto é, sem receber nada em troca, quando muito, um «obrigado». Se um amigo nos pedia ajuda, era pressuposto que ajuda-lo-íamos sem pretendermos benefício material. Se a ajuda que esse amigo solicitasse fosse dinheiro, uma quantia x, nós (se o tivéssemos, claro) emprestávamos essa quantia x, e, quando o nosso amigo pudesse, devolver-nos-ia essa quantia x. Ficavam as contas saldadas e a vida continuava. Era isto que, outrora, significava o termo «ajuda».
Nos tempos modernaços que correm, o termo «ajuda» tem um novo significado. O termo «ajuda» passou a ter o significado que outrora era atribuído ao termo «negócio». Outrora, se eu pedisse dinheiro emprestado a alguém e pagasse juros por esse dinheiro emprestado, eu estava a estabelecer um «negócio» com essa pessoa ou instituição. Ambas as partes estavam interessadas no negócio: eu, porque precisava de dinheiro; a outra parte, porque me disponibilizava esse dinheiro e, com o juro que eu lhe pagava, obtinha um lucro. Era um negócio. Não era uma ajuda. Mas isso era outrora.
Agora, não. Agora, segundo o novo léxico, quem empresta dinheiro e cobra juros pelo empréstimo está a «ajudar», já não está a fazer um negócio. Agora, quem empresta e cobra juros está a ser amigo, está a ser solidário. Ganha dinheiro com os juros que cobra e, simultaneamente, é benemérito. Quem pediu paga o que pediu, paga o juro e fica em estado de agradecimento.
Foi recentemente que aprendi este novo conceito de «ajuda». Concretamente, quando passei a ouvir, com insistência, que Portugal ia necessitar da «ajuda» do FMI e do Fundo Europeu. E quando, com insistência, passei a ouvir que o FMI e o Fundo Europeu estavam prontos a «ajudar» Portugal. Pensei: «Porreiro, pá! Ainda bem que temos amigos, e amigos que nos querem ajudar.» Foi nessa altura que percebi que o conceito tinha mudado. Agora, ajudar quer dizer: «empresto-te dinheiro, mas com as condições que eu ditar e pagas juros. Juros de 5%. E ficas-me agradecido.»
Trata-se pois de uma verdadeira ajuda e de uma sincera amizade. Ajuda e amizade que melhor se compreendem, se tivermos presente que, por exemplo, a Alemanha, membro de ambos os fundos, se financia no mercado a pouco mais de 3% e que esses fundos, de que Portugal também é membro e para os quais pagou a sua respectiva contribuição, foram constituídos exactamente para, entre outras coisas, prestar «ajuda» aos seus membros.
Mas, ao que parece, tudo isto é normal, tudo isto é natural, porque todos aceitam e ninguém protesta. Aqueles que já pediram, mais aqueles que estão prestes a pedir, e ainda aqueles que qualquer dia pedirão dinheiro emprestado, todos eles aceitam reconhecida e agradecidamente que assim seja e que assim continue a ser. Os outros, que são tão membros dos fundos como estes são, mas que por uma enigmática razão assumem o papel de enfadados emprestadores, ordenam que assim é e que assim continue a ser.
Estes tempos modernaços são, de facto, de uma grande complexidade, ou, melhor, de uma outra complexidade, de uma complexidade que não está ao alcance de gente comum e mortal, como eu. São tempos de outra complexidade e de gente de outra estirpe. De estirpe superior, detentora de superiores e inacessíveis códigos de conduta, de superior domínio da economia, da gestão, dos negócios, da própria vida. Gente da estirpe de Merkel, Sarkozy, Sócrates.
Gente que, acima de tudo, reinventou, redefiniu e deixa como legado um novo conceito de «ajuda».
Nos tempos modernaços que correm, o termo «ajuda» tem um novo significado. O termo «ajuda» passou a ter o significado que outrora era atribuído ao termo «negócio». Outrora, se eu pedisse dinheiro emprestado a alguém e pagasse juros por esse dinheiro emprestado, eu estava a estabelecer um «negócio» com essa pessoa ou instituição. Ambas as partes estavam interessadas no negócio: eu, porque precisava de dinheiro; a outra parte, porque me disponibilizava esse dinheiro e, com o juro que eu lhe pagava, obtinha um lucro. Era um negócio. Não era uma ajuda. Mas isso era outrora.
Agora, não. Agora, segundo o novo léxico, quem empresta dinheiro e cobra juros pelo empréstimo está a «ajudar», já não está a fazer um negócio. Agora, quem empresta e cobra juros está a ser amigo, está a ser solidário. Ganha dinheiro com os juros que cobra e, simultaneamente, é benemérito. Quem pediu paga o que pediu, paga o juro e fica em estado de agradecimento.
Foi recentemente que aprendi este novo conceito de «ajuda». Concretamente, quando passei a ouvir, com insistência, que Portugal ia necessitar da «ajuda» do FMI e do Fundo Europeu. E quando, com insistência, passei a ouvir que o FMI e o Fundo Europeu estavam prontos a «ajudar» Portugal. Pensei: «Porreiro, pá! Ainda bem que temos amigos, e amigos que nos querem ajudar.» Foi nessa altura que percebi que o conceito tinha mudado. Agora, ajudar quer dizer: «empresto-te dinheiro, mas com as condições que eu ditar e pagas juros. Juros de 5%. E ficas-me agradecido.»
Trata-se pois de uma verdadeira ajuda e de uma sincera amizade. Ajuda e amizade que melhor se compreendem, se tivermos presente que, por exemplo, a Alemanha, membro de ambos os fundos, se financia no mercado a pouco mais de 3% e que esses fundos, de que Portugal também é membro e para os quais pagou a sua respectiva contribuição, foram constituídos exactamente para, entre outras coisas, prestar «ajuda» aos seus membros.
Mas, ao que parece, tudo isto é normal, tudo isto é natural, porque todos aceitam e ninguém protesta. Aqueles que já pediram, mais aqueles que estão prestes a pedir, e ainda aqueles que qualquer dia pedirão dinheiro emprestado, todos eles aceitam reconhecida e agradecidamente que assim seja e que assim continue a ser. Os outros, que são tão membros dos fundos como estes são, mas que por uma enigmática razão assumem o papel de enfadados emprestadores, ordenam que assim é e que assim continue a ser.
Estes tempos modernaços são, de facto, de uma grande complexidade, ou, melhor, de uma outra complexidade, de uma complexidade que não está ao alcance de gente comum e mortal, como eu. São tempos de outra complexidade e de gente de outra estirpe. De estirpe superior, detentora de superiores e inacessíveis códigos de conduta, de superior domínio da economia, da gestão, dos negócios, da própria vida. Gente da estirpe de Merkel, Sarkozy, Sócrates.
Gente que, acima de tudo, reinventou, redefiniu e deixa como legado um novo conceito de «ajuda».