O último livro que li de Miguel Sousa Tavares foi No Teu Deserto. Um livro pequeno, mas custoso de ler. Custoso, porque são cento e poucas páginas de um contínuo, persistente e maçador desfiar de lugares-comuns. Quando concluí a leitura, pensei: se eu tivesse escrito isto, não seria capaz de propor a sua publicação a ninguém. Guardava tudo e, na primeira oportunidade: papelão. Mas Miguel Sousa Tavares foi capaz e vendeu com sucesso. O ter vendido com sucesso, em si mesmo, não revela particular mérito. Qualquer rapariguita ou qualquer rapazola que tenha um arremedo de programa na televisão e que se tenha na conta de escritora ou escritor, alinhava duas ou três banalidades em meia dúzia de folhas, manda publicar e vende com sucesso garantido. Por este lado, portanto, Miguel Sousa Tavares não fez nada de assinalável. O que já considero assinalável e meritória é a coragem que Miguel Sousa Tavares, mais uma vez, revelou possuir. Apenas um homem corajoso seria capaz de propor a um editor que publicasse tanta vulgaridade. Eu já sabia, de outras leituras, que Miguel Sousa Tavares se considerava um homem particularmente corajoso, mas não imaginava que o fosse àquele ponto.
Tudo isto para dizer o quê? Para dizer que Miguel Sousa Tavares continua, nos dias que correm, a ser um homem corajoso. Um homem destemido. Um homem que vai sempre em frente. É assim que ele se vê, é assim que ele gosta de se ver. E eu também o vejo assim.
Vou explicar porquê.
Comecei a vê-lo assim, como homem sem medo, há cerca de seis ou sete anos, não posso precisar. Antes disso, lia com prazer e admiração as crónicas semanais que ele escrevia no Público. Nessa altura, não o via como o homem que transbordava a coragem que agora transborda. Via-o como um indivíduo lúcido, preocupado com a res publica, e que exercia de pleno direito e de modo fundamentado o escrutínio da nossa vida política. Eu via isto, mas via mal.
A partir de certa altura, comecei a ver outras coisas. Comecei a ver os desmentidos que alguns dos visados pelas suas críticas semanais lhe dirigiam. Comecei a ver as resposta que Miguel Sousa Tavares lhes dava. E comecei a ver que os desmentidos eram mais bem fundamentados que as críticas e as respostas de Miguel Sousa Tavares. Comecei a ver que Miguel Sousa Tavares às vezes falava de cor, falava sem ter tido o trabalho prévio de se informar com rigor sobre o que estava a falar. Depois, comecei a ver que Miguel Sousa Tavares falava muitas vezes de cor. Finalmente, vi que Miguel Sousa Tavares falava de cor vezes demais.
Deixei de o ler e de o ouvir (o cronista, porque ao «escritor» ainda abri a excepção de ler o tal No Teu Deserto, de que rapidamente me arrependi). Mas foi na altura em que deixei de o ler e de o ouvir que tive de reconhecer que Miguel Sousa Tavares era um homem corajoso: apenas um homem corajoso conseguiria dizer com tanto à-vontade os dislates que ele dizia. Só um homem corajoso podia ter a consciência de que não sabia nada do que estava a falar e, mesmo assim, falar, falar, falar.
Tive nova prova disso anteontem, segunda-feira. Algumas pessoas amigas fizeram-me chegar a informação de que Miguel Sousa Tavares tinha falado no jornal da SIC, e que, novamente, com a coragem que não o abandona, tinha voltado a dizer barbaridades, falsidades e outras maldades acerca dos professores. Esses meus amigos acompanharam esta informação com alguns impropérios, dos quais revelo apenas o mais soft: «o gajo é um grandessíssimo mentiroso!»
Eu sabia que ele era corajoso, mas não o tinha em conta de mentiroso. Para me certificar, fui ao Youtube ver o que ele tinha dito, na SIC.
Entre outras coisas, Miguel Sousa Tavares disse, e cito com rigor religioso: «[Com o segundo Governo de Sócrates], os professores passaram a ganhar todos mais automaticamente e vão ser todos classificados com Muito Bom e Óptimo.»
Peço desculpa aos meus amigos, mas este homem não mente. Este homem não é um mentiroso. Lamento, mas não é. Aquele que mente sabe o que diz e, propositadamente, falseia a realidade. Ora, Miguel Sousa Tavares não mente, porque Miguel Sousa Tavares não sabe o que diz, não sabe do que está a falar, não faz a mais pequena ideia do que está a dizer. Deste modo, deve ser-lhe feita justiça: Miguel Sousa Tavares não é um mentiroso. Pelo contrário, Miguel Sousa Tavares confirma ser, isso sim, um homem corajoso. Não faz a mínima ideia do que está a falar, mas fala. O que é um claro sinal de coragem. Não sabe o que diz, mas diz. Outra confirmação da sua coragem. Tem consciência de que não possui qualquer informação que confirme o que afirma, mas afirma. Mais coragem ainda. Não há uma única verdade no que profere, mas profere. Não é um homem corajoso? É. Desmedidamente.
Ora, é de homens assim que o País precisa. Homens que digam o que lhes vem à cabeça, sem lhes interessar saber se é verdadeiro ou falso. Homens que não perdem tempo com pruridos ou minudências dessas.
De homens assim é que o País precisa. Em particular, se quiser andar bem informado.
P.S. Agora que soube que comecei a «ganhar mais automaticamente» e que tive uma classificação de «Muito Bom ou de Óptimo», aproveito a circunstância para perguntar ao bom mensageiro se também me saberá informar onde poderei levantar o tal aumento e, se não for pedir muito, onde poderei requisitar o certificado com a tal classificaçãozinha.
Não imagina como lhe ficaria grato.
Tudo isto para dizer o quê? Para dizer que Miguel Sousa Tavares continua, nos dias que correm, a ser um homem corajoso. Um homem destemido. Um homem que vai sempre em frente. É assim que ele se vê, é assim que ele gosta de se ver. E eu também o vejo assim.
Vou explicar porquê.
Comecei a vê-lo assim, como homem sem medo, há cerca de seis ou sete anos, não posso precisar. Antes disso, lia com prazer e admiração as crónicas semanais que ele escrevia no Público. Nessa altura, não o via como o homem que transbordava a coragem que agora transborda. Via-o como um indivíduo lúcido, preocupado com a res publica, e que exercia de pleno direito e de modo fundamentado o escrutínio da nossa vida política. Eu via isto, mas via mal.
A partir de certa altura, comecei a ver outras coisas. Comecei a ver os desmentidos que alguns dos visados pelas suas críticas semanais lhe dirigiam. Comecei a ver as resposta que Miguel Sousa Tavares lhes dava. E comecei a ver que os desmentidos eram mais bem fundamentados que as críticas e as respostas de Miguel Sousa Tavares. Comecei a ver que Miguel Sousa Tavares às vezes falava de cor, falava sem ter tido o trabalho prévio de se informar com rigor sobre o que estava a falar. Depois, comecei a ver que Miguel Sousa Tavares falava muitas vezes de cor. Finalmente, vi que Miguel Sousa Tavares falava de cor vezes demais.
Deixei de o ler e de o ouvir (o cronista, porque ao «escritor» ainda abri a excepção de ler o tal No Teu Deserto, de que rapidamente me arrependi). Mas foi na altura em que deixei de o ler e de o ouvir que tive de reconhecer que Miguel Sousa Tavares era um homem corajoso: apenas um homem corajoso conseguiria dizer com tanto à-vontade os dislates que ele dizia. Só um homem corajoso podia ter a consciência de que não sabia nada do que estava a falar e, mesmo assim, falar, falar, falar.
Tive nova prova disso anteontem, segunda-feira. Algumas pessoas amigas fizeram-me chegar a informação de que Miguel Sousa Tavares tinha falado no jornal da SIC, e que, novamente, com a coragem que não o abandona, tinha voltado a dizer barbaridades, falsidades e outras maldades acerca dos professores. Esses meus amigos acompanharam esta informação com alguns impropérios, dos quais revelo apenas o mais soft: «o gajo é um grandessíssimo mentiroso!»
Eu sabia que ele era corajoso, mas não o tinha em conta de mentiroso. Para me certificar, fui ao Youtube ver o que ele tinha dito, na SIC.
Entre outras coisas, Miguel Sousa Tavares disse, e cito com rigor religioso: «[Com o segundo Governo de Sócrates], os professores passaram a ganhar todos mais automaticamente e vão ser todos classificados com Muito Bom e Óptimo.»
Peço desculpa aos meus amigos, mas este homem não mente. Este homem não é um mentiroso. Lamento, mas não é. Aquele que mente sabe o que diz e, propositadamente, falseia a realidade. Ora, Miguel Sousa Tavares não mente, porque Miguel Sousa Tavares não sabe o que diz, não sabe do que está a falar, não faz a mais pequena ideia do que está a dizer. Deste modo, deve ser-lhe feita justiça: Miguel Sousa Tavares não é um mentiroso. Pelo contrário, Miguel Sousa Tavares confirma ser, isso sim, um homem corajoso. Não faz a mínima ideia do que está a falar, mas fala. O que é um claro sinal de coragem. Não sabe o que diz, mas diz. Outra confirmação da sua coragem. Tem consciência de que não possui qualquer informação que confirme o que afirma, mas afirma. Mais coragem ainda. Não há uma única verdade no que profere, mas profere. Não é um homem corajoso? É. Desmedidamente.
Ora, é de homens assim que o País precisa. Homens que digam o que lhes vem à cabeça, sem lhes interessar saber se é verdadeiro ou falso. Homens que não perdem tempo com pruridos ou minudências dessas.
De homens assim é que o País precisa. Em particular, se quiser andar bem informado.
P.S. Agora que soube que comecei a «ganhar mais automaticamente» e que tive uma classificação de «Muito Bom ou de Óptimo», aproveito a circunstância para perguntar ao bom mensageiro se também me saberá informar onde poderei levantar o tal aumento e, se não for pedir muito, onde poderei requisitar o certificado com a tal classificaçãozinha.
Não imagina como lhe ficaria grato.