sábado, 25 de setembro de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico

Os filósofos têm dedicado muitas horas do seu tempo e muitas páginas da sua escrita à reflexão sobre a Morte. A essa reflexão temos feito referência nos últimos sábados, mas hoje, para aliviar o ambiente, vamos apenas transcrever algumas histórias que não sendo propriamente filosóficas revelam uma inegável sabedoria no modo de lidar com a ela:

«Mickey acaba de falecer e a mulher, Judy, dirige-se à agência funerária [onde já se encontrava o corpo do falecido]. Quando vê o marido, Judy começa a chorar. Um empregado tenta consolá-la. No meio das lágrimas, Judy explica que Mickey está a usar um fato preto e sempre quisera ser enterrado num fato azul. O empregado explica-lhe que é um procedimento habitual vestirem os corpos com um fato preto, mas que vai ver o que pode fazer.
No dia seguinte, quando Judy regressa à agência funerária para estar um último momento com Mickey, sorri entre lágrimas — Mickey tem um fato azul vestido.
— Como é que conseguiu arranjar aquele bonito fato azul? — pergunta ao empregado.
— Bem — respondeu o empregado —, ontem, depois de a senhora sair, foi trazido um homem do mesmo tamanho do seu marido vestido com um fato azul. A mulher dele estava muito perturbada porque ele sempre quisera ser enterrado com um fato preto. Depois disso, só foi preciso trocar as cabeças.
[...]
Jack tinha falecido e o funeral estava a decorrer no cemitério. Jennifer, sua mulher há mais de 40 anos, tinha os olhos marejados de lágrimas. No final da cerimónia, quando o caixão estava a ser levado para fora da igreja, a carreta chocou acidentalmente com a soleira da porta. Para absoluto choque de todos os presentes, ouviram um leve gemido vindo de dentro do caixão. Abriram-no e encontraram Jack vivo. Maravilha das maravilhas! Nunca se vira milagre maior.
Jenny e Jack viveram juntos mais 10 anos, e depois Jack morreu. A cerimónia decorreu no mesmo cemitério. No final da cerimónia, quando o caixão estava a ser levado na carreta, Jenny gritou:
— Cuidado com a soleira da porta!
[...]
A empresa de Joe oferece-lhe um bilhete para a Supertaça, mas, quando chega ao estádio, Joe constata que o seu lugar é na última fila, num canto do estádio. A meio da primeira parte, vê através dos binóculos um lugar vazio na décima fila, perto da linha dos 50 metros. Decide arriscar e dirige-se para o lugar vazio.
Ao sentar-se, Joe pergunta ao homem que está ao seu lado:
— Desculpe, está alguém aqui sentado?
— Não — responde o fulano.
— É incrível! — exclama Joe. — Quem, no seu juízo perfeito, teria um lugar destes para a Supertaça e não o usaria?
— Bem, na verdade o lugar pertence-me — diz o homem. — Era suposto ter vindo com a minha mulher, mas ela faleceu. É a primeira Supertaça que não vemos juntos desde que nos casámos em 1967.
— Que pena — diz Joe. — Mas não conseguiu arranjar ninguém para ocupar o lugar? Um amigo, um familiar?
— Não — responde o homem. — Estão todos no funeral.»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.80-84.