sábado, 18 de setembro de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico

A morte, segundo Schopenhauer

Para Arthur Schopenhauer, não há motivo para sentir ansiedade relativamente à morte. Isto porque a morte é a aspiração e o objectivo supremo da vida. É uma espécie de realização suprema!
A verdade é que Schopenhauer tinha ideias interessantes sobre a morte. Uma das coisas que quis dizer foi que a vida é um processo constante de morte. Se pensarmos bem, o passado é um simples repositório da morte, uma série de acontecimentos que já não existem — que desapareceram para sempre, irrecuperáveis, mortos como pregos.
Não obstante, diz Schopenhauer, agarramo-nos à vida porque temos um "desejo de viver" desvirtuado, que — contrariamente aos nossos melhores interesses — nos impede de abraçarmos o nosso verdadeiro destino, a morte.
Um exemplo:
Um italiano, um francês e um americano estão prestes a ser executados. Dizem-lhes que podem comer o que quiserem na sua última refeição.
Tony replica:
— Uma bela tigela de linguini com molho de amêijoas.
Come o seu prato de massa e é executado.
Segue-se Pierre.
— Eu gostaria de uma bela tigela de caldeirada provençal.
Saboreia cada colherada e depois é executado.
Por fim, chega a vez de Bill. Ele pensa durante alguns instantes e depois diz:
— Eu quero uma bela taça de morangos frescos.
— Morangos? — pergunta o guarda. — Não é a época deles.
— Não há problema. eu espero.
Verdade seja dita, Schopenhauer superou-se com um factor de depressão ainda maior. Disse que a morte é um alívio bem-vindo da vida. Citou lorde Byron como seu aliado no desprezo dos escassos prazeres da vida:
Conta as alegrias que as tuas horas viram,
Conta os dias livres de angústia,
E compreende que, o que quer que tenhas sido,
O melhor é não seres.
Num excerto, Schopenhauer foi ao ponto de concluir que, tendo em conta todos os desgostos da vida, melhor seria nunca ter existido!
Os dois que se seguem também pensam de modo idêntico:
Sam e Joe, dois velhotes, estavam a conversar num banco de jardim.
Oy. Toda a minha tive problemas atrás de problemas — disse Sam. — Um negócio que foi à falência, uma mulher doente, um filho ladrão. Por vezes, penso que estaria melhor morto.
Joe: Percebo-te perfeitamente, Sam.
Sam: Melhor ainda, quem me dera nunca ter existido.
Joe: Sim, mas quem tem essa sorte? Talvez uma pessoa em dez mil?

Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.57-61 (adaptado).